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Neste blog, além de conter a História e Genealogia das Famílias Rascón, Martinez, Freitas, Pereira, Brito, Castro, Colares e Cardoso, há também o Brasão da Família Rascón Martinez e o Brasão das Famílias Rascón, Martinez, Freitas, Pereira, Brito, Castro, Colares e Cardoso, a Cronologia Familiar, a exposição das cidades espanholas de onde vieram os ancestrais da Família Rascón Martinez, fotografias dos patrimônios da família, lugares por onde a família construiu história e fontes documentais, como banco de dados para fim de pesquisa aos familiares. No Blog: Primeiro a apresentação da Cronologia Familiar, depois a apresentação da Colônia Ferreira Pena, município de Santa Isabel, Pará, Brasil, onde a Família Rascón Martinez se instalou. A seguir, a apresentação das cidades espanholas de onde vieram os ancestrais da Família Rascón Martinez. E por fim a História e Genealogia das Famílias Rascón, Martinez, Freitas, Pereira, Brito, Castro, Colares e Cardoso, dividida em partes facilitando a leitura. A História e Genealogia das Famílias Rascón, Martinez, Freitas, Pereira, Brito, Castro, Colares e Cardoso começa na Parte 1. Para quem verá o blog pelo telemóvel (celular) tudo aparecerá limitado. Então rolar para baixo e ver no rodapé do blog o botão “Ver versão para web”. Clicar no botão e então aparecer no lado todas as abas com as partes. Também no mesmo rodapé aparecerá o botão “Página inicial”, com uma seta à direita e outra à esquerda, clicar nas setas e as partes aparecerão cada vez que a sete é acionada.

quinta-feira, novembro 30, 2023

Parte 9 A geração perdida da Família Rascón Martínez.

  

PARTE 9

A geração perdida da família Rascón Martínez
Sérgio se perdeu de sua família original e a geração perdida da Família Rascón Martínez

De São Paulo, sua mãe Tomasa Martínez Ferrero e sua irmã Josefa, escrevia cartas para Sérgio. Nas cartas, Tomasa insistia para o filho ir para junto da família em São Paulo, pois o Pará (naquele tempo) não era uma terra boa para se viver. Ela o queria perto dela. Como também, Tomasa Martínez Ferrero tinha planos de voltar para a Espanha com toda a família, e queria levar Sérgio com ela. De São Paulo ela planejava voltar para a Espanha. Sérgio não dava atenção ao apelo da mãe, pois não queria ser colono em fazenda de café, em plantio de agricultura e trabalhador em fábricas. Muitas cartas não foram respondidas por Sérgio. Há uma informação de Sofia, que diz ter lido numa das cartas: em São Paulo, Josefa casou com um grande industrialista. Da parte de Josefa, ela escreveu apenas cinco cartas ao seu irmão Sérgio. Há uma versão, não confiável que a família, de São Paulo, voltou para a Espanha, mas logo voltou outra vez para São Paulo. Então ocorreu a morte de Tomasa Martínez Ferrero, falecida e sepultada em São Paulo, depois de dois anos que saiu do Pará. De São Paulo, Josefa escreveu uma “Carta de Luto”, avisando sobre a morte da mãe Tomasa Martínez Ferrero, relatando sua morte e sepultamento. O papel da carta era todo bordado nas margens com a fita preta de luto.

Colonos espanhóis indo para a Argentina em busca de vida melhor


Tempo depois, de São Paulo, Josefa escreveu a última carta ao seu irmão Sérgio no Pará, avisando que a Família Rascón Martínez estava partindo de mudança, como imigrantes, para a Argentina, ao sul do Brasil. Desde aquela carta de despedida, Josefa nunca mais escreveu ao seu irmão Sérgio. Desde então, não se sabe o paradeiro de todos os membros da Família Rascón Martínez imigrados da Espanha para o Brasil. Nada sabemos sobre o destino da mesma família na Argentina e sobre sua descendência. Não sabemos se fato, de São Paulo, toda a família voltou para a Espanha, quantos ficaram na Espanha e quantos voltaram para o Brasil, ou se todo mundo foi e todo mundo voltou. Não sabemos se de fato, todos foram para a Argentina ou se alguns deles permaneceu em São Paulo. Sérgio se perdeu de sua família original e esta é a geração perdida da Família Rascón Martínez. Na verdade, Sérgio foi o culpado desta perda, por falta de interesse de comunicação com a família.
Quando a velhice chegou e a enfermidade final abateu, Sérgio caiu na solidão, e quis saber do paradeiro de sua família, e voltar a ter contato com seus familiares. Ele mandou sua filha Sofia ao consulado espanhol em Belém, a procurar pela família desaparecida, a saber alguma informação do paradeiro deles. Sofia foi várias vezes ao consulado espanhol, mas era tratada com muita indelicadeza e arrogância. Na verdade, ela não tinha documentação e tinha pouca informação a dar ao consulado. Sofia desistiu de ir ao consulado.
Eu também fui ao consulado espanhol em Belém, em 1994, levando comigo a certidão original de Sérgio Rascón Martínez, mas o Cônsul José Fernandes, de modo arrogante e impaciente, disse não ser trabalho do consulado pesquisar e entrar em contato com familiares na Espanha, mas o trabalho do consulado é tratar de documentos dos viajantes, imigrantes e emigrantes entre o Brasil e Espanha. O cônsul disse ainda que, se eu quisesse realizar meu plano, teria que ir à Espanha, tomar autorização, de um juiz para entrar nos antigos arquivos e encontrar os familiares. A autorização do juiz seria desnecessária.
Quando Sérgio diz: “Hoje vivo de cacaueiros e seringueiras”, parece estar nos seus últimos anos de vida. O manuscrito não tem data. Naquele tempo a borracha das seringueiras, o látex, ainda tinha muito valor e gerava muito dinheiro. O cacau também gerava muito dinheiro. Haviam trabalhadores nas propriedades de Sérgio que extraiam o leite das seringueiras. Sérgio nunca trabalhou na colheita de cacau, na produção de sementes de cacau e na extração de borracha das seringueiras. Pessoas simples trabalhavam para ele.

Parte 8 A instalação de Sérgio Rascón Martinez em Mocajuba, Pará, Brasil.


PARTE 8

A instalação de Sérgio Rascón Martínez em Mocajuba, Pará, Brasil

A primeira casa de Sérgio Rascón Martínez em Mocajuba

A casa comercial e residência de Sérgio em Mocajuba. Em Mocajuba, Sérgio comprou uma casa comercial por nome “Casa Itamaraty”, seu primeiro patrimônio pessoal. Quando Sérgio diz: “Em 1915, me estabeleci com comércio em Mocajuba”, indica que ele já era comerciante, e já tinha um estabelecimento comercial fixo, um sofisticado Armazém, antes da fundação da empresa “Seguin & Rascon”, fundada somente em 05/02/1917, e extinta em 1921. Tanto o comércio armazém antes da fundação da dita empresa comercial, com a sede empresarial da firma “Seguin & Rascon” funcionaram na “Casa Itamaraty”, sua residência, tendo também, um sobradinho que era um completo comercial aos fundos da casa. A casa tinha uma enorme porta comercial sempre aberta.
A casa, de estilo artístico colonial, feita de “taipa” tinha dois andares. Sérgio comprou a “Casa Itamaraty”, uma casa comercial em Mocajuba, onde instalou sua residência pessoal no andar de cima, e o seu comércio no andar de baixo. No primeiro andar onde funcionava o armazém da empresa, foi instalada depois a outra empresa chamada “Seguin & Rascon”.
No quintal, aos fundos da casa, estava o depósito que era um sobradinho de dois andares, onde se armazenava as mercadorias da empresa. Era o depósito das mercadorias e combustíveis, onde também estava a fábrica de fazer sabão de cacau e de extração de óleo de andiroba e a fábrica de fazer vinagre. Havia muita mercadoria e muitos combustíveis inflamáveis no depósito. O fogo criminoso aconteceu neste sobradinho, o depósito.
Naquele tempo não havia o antigo Mercado Municipal na orla do rio, ao lado do antigo Trapiche Municipal na Travessa Alexandre de Castro. Quando o dito mercado foi construído, o lugar do sobradinho ou complexo comercial aos fundos da “Casa Itamaraty” ficou com a frente para este mercado, já na Rua Siqueira Mendes. O dito mercado foi destruído dando vez ao moderno mercado construído ao lado, cujo é o mercado municipal atual (2023). O antigo Mercado Municipal foi construído na orla do rio, na rua Siqueira Mendes, diante do quarteirão entre a “Casa Itamaraty” e a casa do prefeito Miguel Dias de Almeida. Numa esquina ficava a “Casa Itamaraty” e na outra esquina, aos fundos do quintal da “Casa Itamaraty”, ficava a casa daquele que foi prefeito em Mocajuba, Miguel Dias de Almeida. Era neste quintal, entre as duas citadas casas que ficava o sobradinho ou complexo comercial da empresa “Seguin & Rascon”, de dois andares, que também funcionava como depósito de mercadorias e combustíveis, para abastecer o armazém na casa de Sérgio, e onde, também funcionava as fabricas de sabão de cacau, e de vinagre. Na verdade, este complexo comercial era uma casa separada da casa de Sérgio, construída toda em madeira, com dois andares. Na parte de cima estava a fábrica de fazer sabão de cacau, e extração de óleo de andiroba. Na parte de baixo estavam os combustíveis inflamáveis, vendidos para acender lamparinas, lampiões, candeeiros, faróis, etc., e para acender fogo.
Em Mocajuba, Sérgio prosperou, chegando a ter armazém comercial, propriedades no lugar Tauaré, fábrica de fazer vinagre e fábrica de fazer sabão de cacau, barco que faziam linha entre Belém e Mocajuba, outros bens e muitas joias.
Sérgio e o Francisco Seguin Dias ficaram amigos, somaram trabalho e depois a sociedade comercial. Os ditos viram que o comércio era bom e lucrativo no Rio Tocantins, podendo ganhar muito dinheiro. Seguin convenceu Sérgio para a empresa “Seguin & Rascon”, no ano de 1917. Sérgio anexou seu comércio pessoal à dita empresa, tornando-se o sócio presidente, na condição de gerente.
Depois do incêndio criminoso que levou a falência da empresa, o lugar onde estava o depósito permaneceu vazio até a década de 90 do século XX, quando foi erguido no lugar loja comercial de baixa altura, com a frente voltada para o mercado municipal ou para o Rio Tocantins, já na Rua Siqueira Mendes. A casa de Sérgio situava-se na esquina entre a Travessa Alexandre de Castro e a Rua Siqueira Mendes (a rua na orla do rio). O comércio fazia frente para as duas ruas, mas o endereço estava na Travessa Alexandre de Casto. Quando eu faço uso do nome ‘Travessa Alexandre de Castro’ é para atualizar e indicar o lugar da casa na atualidade, mas aquela rua ainda não era definida com este nome. Nos documentos, o endereço de Sérgio estava na Praça 13 de Maio, que depois mudou de nome para Praça Nossa Senhora da Conceição, indicando que de fato, a frente principal da casa estava voltada para a praça da Igreja Matriz de Mocajuba, na Travessa Alexandre de Castro. A curta Travessa Alexandre de Castro começa na beira do rio terminado na porta do cemitério municipal. Naquele tempo, o antigo Trapiche Municipal estava erguido no início da Travessa Alexandre de Castro, diante da casa de Sérgio. Quem saía do trapiche já estava na Travessa Alexandre de Castro e diante da casa de Sérgio.

O antigo Trapiche Municipal de Mocajuba no início da Travessa Alexandre de Castro. Aos fundos a antiga Igreja Matriz, que existiu até o 1950, onde os filhos de Sérgio foram batizados.

De 1912 a 1914, o nome de Alexandre de Oliveira Castro aparece como Intendente e presidente do conselho municipal. No Brasil, depois da instalação da República, para diferenciar da monarquia, o título “Intendente” era atribuído ao executivo municipal, que correspondia ao cargo de prefeito municipal. Os documentos antigos deixados por Sérgio Rascón Martínez, não existe a Travessa Alexandre de Castro, indicando que aquela rua ainda não era definida como rua e com um nome, mas era a beira da praça, o endereço das casas era a Praça 13 de Maio. Da Praça 13 de Maio ao cemitério ainda não estava definido como rua, mas um pedaço de chão devoluto que antes já fora o início de cemitério, onde corpos foram enterrados. Depois o mesmo chão foi tomando forma de rua. O cemitério foi definindo mais para traz, até o terreno da necrópole ser murado. 

          O antigo Trapiche Municipal por onde Sérgio Rascón Martínez e seus filhos andaram na infância, iniciava-se próximo à sua casa residencial e comercial. O navio a vapor Prudente de Moraes no trapiche. Foto de 1900 quando Sérgio ainda morava na Colônia Ferreira Pena.


Em estilo colonial, casa de Sérgio era feita de ‘taipa”, pintada, idêntico à casa de alvenaria. O primeiro proprietário do terreno e da casa foi João Pedro Dias. Nereu insistia em dizer que João Pedro dias foi o primeiro interventor de Mocajuba. Como é sabido, a cidade do Rio de Janeiro era a capital do Brasil e ali estava o “Palácio Itamaraty” do governo brasileiro. Não confundir o Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro com o Palácio Itamaraty em Brasília. João Pedro Dias colocou o nome de sua residência como “Casa Itamaraty” em homenagem ao Palácio Itamaraty no Rio de Janeiro.
O Palácio do Itamaraty é uma edificação oitocentista, de grande valor histórico e artístico, situada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. O palácio foi sucessivamente residência nobre, sede do Governo Republicano (1889-1898) e sede do Ministério das Relações Exteriores (1899-1970). Atualmente funciona como sede do Escritório de Representação do MRE no Rio de Janeiro, Arquivo Histórico, Mapoteca, Museu Histórico e Diplomático e sede do Centro de História e Documentação Diplomática da Fundação Alexandre de Gusmão.” Fonte: Wikipédia.
Sérgio Rascón Martínez comprou a ‘Casa Itamaraty” do Sr. João Pedro Dias. João Pedro Dias vendeu a casa para o prefeito Raimundo Dias Pimentel. Segundo Nereu Rascon de Freitas, foi Raimundo Dias Pimentel que demoliu a casa comercial de taipa que pertencia a Sérgio, construindo uma nova casa no lugar. Raimundo Dias Pimentel vendeu para o prefeito Cazuza Pimentel (o Cazuzinha). Segundo a Sra. Terezinha Furtado, a firma dos onde irmãos, entre os quais um era seu esposo Manoel Furtado, comprou a dita casa com o terreno de um homem chamado Bendelac. A firma dos Irmãos Furtados é a “Firma Indústria, Comércio, Navegação, Progresso Ltda” que comprou a casa. É a mesma firma que mencionada na Ata Paroquial de 26/09/1970. Foi esta firma que demoliu a casa comercial anterior, e construiu uma nova casa chamada “Casa São Geraldo”, que segundo a placa que estava na parede da sala, a construção do prédio é de 07/06/1958. Na “Casa São Geraldo” sempre foi comercial, e nela funcionou por muitos anos o “Bar e Sorveteria São Geraldo”. As derrubadas das casas anteriores eram por ser de taipa e para ampliação devido mais espaço no comércio. Por fim, a “Casa São Geraldo” foi construída de alvenaria.
O prefeito de Mocajuba, Manoel Furtado, esposo da Sra. Terezinha Furtado, um dos donos da “Firma Indústria, Comércio, Navegação, Progresso Ltda” veio a falecer. A firma terminou, e os outros irmãos quiseram tomar a “Casa São Geraldo” da Sra. Terezinha, pois a casa pertencia à firma. Terezinha não devolveu a casa, porque a família da dita empresa tinha vários bens em Cametá, e ela não quis nenhum bem de Cametá, mas quis somente a “Casa São Geraldo” em Mocajuba, pois tinha direito à casa por causa de seu falecido esposo, que era sócio da empresa. O caso foi parar na Justiça.
No dia 01/09/2002, domingo, à tarde, quando eu (Nautilho), procurei pela Sra. Terezinha em sua casa, ao lado da “Casa São Geraldo” agora toda remodelada, em busca das antigas escrituras da dita casa, para finalidade de pesquisa. Ela confessou não ter as escrituras e não as encontrou no cartório de Mocajuba, e não as encontrando, procurou a Justiça a fim de resolver tais problemas de herança, e para preservar com testamentos os seus patrimônios e bens. Então os primitivos documentos da casa deviam estar em poder da família do seu esposo em Cametá, que é a família da extinta empresa na mesma cidade. Terezinha tinha em mão apenas o antigo Título de Aforamento do terreno, que me mostrou, e pediu orientação de como transferir o título para seu nome. Eu orientei-lhe a procurei pelo meu irmão Nilton na Prefeitura Municipal de Mocajuba, levar o título para ele ver e lhe orientar no quer fazer nos termos legais da lei. Dias depois, ela disse a mim que foi à prefeitura.
Segundo Terezinha, disse a mim que quando era jovem, participou do casamento de Miguelzinho e Generosa (Dona Zezé). Naquele tempo, não pensava que um dia também se casaria, mas casou ainda jovem e foi morar com o seu esposo no lugar que um dia foi a casa de Sérgio em Mocajuba. A primeira pista de aviação de Mocajuba tornou-se uma rua, recebendo o nome de Rua Manoel de Souza Furtado, em homenagem ao falecido prefeito, esposo da Sra. Terezinha.
Quando Terezinha foi morar naquele lugar. Chegou a ver uma casa de taipa já em desgastes, com um enorme portão com umbral em arco, estilo colonial, como casa comercial antiga. A casa foi demolida e no lugar foi construída a “Casa São Geraldo”, que permaneceu intacta até 1980, quando foi remodelada. A “Casa São Geraldo” foi remodelada sendo quase toda reconstruída. Onde havia um comprido balcão foi construído uma parede que separou a área comercial e a casa particular de Terezinha, o telhado também foi reformado. o terreno foi dividido em dois, um terreno foi construído a casa moderna de Dona Terezinha, com dois andares, e o outro terreno na esquina, ficou para a Casa São Geraldo. A área comercial foi reduzida, ficando pequena, funcionando um bar, que foi perdendo seu movimento comercial, paulatinamente, vindo a ser desativado no ano 2000. O meu irmão Nilson trabalhou como vendedor no bar. Na remodelação, a antiga casa que ficava ao lado da “Casa São Geraldo”, entre a dita casa e a antiga Casa Paroquial ofertada por Ana Braga, foi demolida para a construção da nova e moderna casa de Terezinha, com dois andares. O terreno foi dividido, na maior parte do terreno foi construída a dita casa de Terezinha, e outra parte estava a “Casa São Geraldo”, agora reduzida ao meio.

A “Casa São Geraldo”, na década de 70 do século XX, antes de ser remodelada. A “Casa São Geraldo” perdeu sua característica e tamanho originais, pois foi remodelada em julho de 1980 e em 2002. 

Em 2002, a “Casa São Geraldo” foi outra vez remodelada. As portas laterais com a frente para o antigo mercado municipal foram fechadas com alvenaria, e abriu-se um portão para a Praça Nossa Senhora da Conceição. A parte onde funcionava o extinto bar foi alugado para fim comercial. O nome “Casa São Geraldo” foi apagado e substituído por “Confecções e Sapataria Nunes”, tornando-se uma loja de roupas e sapatos onde meu sobrinho Neilton trabalhou. A parte que restou da Casa São Geraldo, na esquina, foi vendida em 2022 para o Sr. Edmilson Antônio Braga Sampaio, o “Edmilsinho”, filho do “Missoca” e Maria Bernadete Moreira, mãe de sua esposa do Edmilsinho, os dois compraram a casa. A casa onde Terezinha Furtado está à venda até 2014, por R$ 900.00.
O terreno aos fundos da antiga Casa Itamaraty e depois da antiga Casa São Geraldo, onde estava o sobradinho que foi incendiado, foi divido em cartório na partilha de herança entre três irmãos: Judite Furtado, Emânuel Furtado e Fernando Conceição Carvalho Furtado. Judite Furtado e Emânuel Furtado venderam seus terrenos para o empresário Nei Barros. O outro terreno, pertencente ao Fernando, não foi vendido e pertence a ele, até a data de 2024.
Enfim, o terreno que pertencia a Sérgio Rascón Martínez foi divido em cinco partes: um ocupado pela então residência da falecida Terezinha Furtado, ainda não vendida até 2024; o terreno na esquina foi vendido e transformado em loja, e o terreno aos fundos que foi dividido em três, e dois já foram vendidos para o Nei Barros.

Parte 7 A ida de Sérgio para Mocajuba e o laço comercial entre Sérgio Rascón Martínez e Francisco Seguin Dias.


PARTE 7

A ida de Sérgio para Mocajuba e o laço comercial entre Sérgio Rascón Martínez e Francisco Seguin Dias.

Francisco Seguin Dias

O espanhol Francisco Seguin imigrou da Espanha para o Brasil, junto com seu pai, José Joaquim Dias, e de seu irmão que morava em São Paulo. Francisco e seu pai vieram morar para Belém. José Joaquim Dias preferiu voltar para a Espanha, e seu filho foi deixá-lo no país natal, onde construiu uma pequena casa para o pai morar, e voltou ao Brasil.
Passagem do Francisco Seguin Dias, e de seu pai José Joaquim Dias, como imigrantes para o Brasil.

Eles vieram para o Brasil depois do dia 8 de maio de 1900, pelo Porto de Vigo, no lesta da Espanha, acima de Portugal.
Os imigrantes não tinham documentos pessoais como Registro Geral (RG, Carteira de Identidade), Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), Carteira de Trabalho, e outros documentos, logo as pessoas não tinham um registro oficial documental pessoal, e citavam seus nomes incompletos, geralmente usando somente o sobrenome do pai. Eis porque o José Joaquim Dias e seu filho Francisco Seguin Dias não se assinaram “Dias” no passaporte e na passagem. O José Rascón Temprano, pai do Sérgio Rascón Martínez, também se identificava e se assinava somente como José Rascón.
A Sofia de Freitas Nogueira estava certa em dizer que a Família Rascón Martínez veio primeiro para o Brasil, antes da Família Seguin. Francisco Seguin Dias veio depois, pobre e sem nada, “com uma mão na frente e outra atrás” – como dizia a Sofia.
Passaporte do José Joaquim Dias, pai de Francisco Seguin Dias

Francisco Seguin Dias trabalhava como regatão para o Sr. Mário Bentes, o empresário comerciante de um armazém. O comerciante Mário Bentes era espanhol que guiava Francisco Seguin Dias em Belém. Francisco Seguin Dias comprou um barco e colocou o nome do barco de Mário Bentes em homenagem ao empresário. Era um barco para linha de viagem e frete. Como regatão, Seguin viajava para a região do Rio Tocantins, no Baixo Tocantins, Pará, onde a exploração de sementes de cacau e borracha de seringueiras era boa mercadoria promissora na época.
Antes de Sérgio conhecer o Francisco Seguin Dias, este já era também regatão e viajava para o Rio Tocantins, no Pará. (“O rio Tocantins é um curso de água que nasce na serra Dourada, no estado de Goiás, passando logo após pelos estados de Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no golfão Marajoara (ou baía do Marajó), logo após o furo de Santa Maria (ou rio Pará)” - Fonte: Wikipédia). Francisco Seguin Dias viajava para a região do Baixo Tocantins, no Pará, onde o Rio Tocantins banha a cidade de Cametá, Mocajuba, Baião e Tucuruí.
O comércio era a maior fonte de lucro financeiro no Rio Tocantins. Segundo Nereu, Francisco Seguin Dias e Sérgio Rascón Martínez viajavam como regatão para o Rio Tocantins, e chegaram até a região do Tauaré em Mocajuba, em barcos diferentes, ambos se conheceram e tornaram-se amigos e parceiros comerciais.
Sérgio diz no seu curto manuscrito: “Em 1905 vim para o (rio) Tocantins”, isto indica que ele estava com 18 anos de idade, quando já trabalhava como “regatão”.
Quando ele diz: “Em 1905 vim para o (rio) Tocantins”, não significa o estado do Tocantins, no Brasil, que não existia naquela época, criado somente em 1988, mas se refere ao Rio Tocantins, na região do Baixo Tocantins, o rio que banha Cametá, Mocajuba, Baião e Tucuruí. Por muito anos, o Rio Tocantins foi chamado apenas de “Tocantins”.
Sérgio comprou uma casa comercial e residencial, de dois andares, em Mocajuba, e comprou seu primeiro barco veleiro que fazia linha entre Belém e Mocajuba. O barco servia o comercio “regatão” e também transportava borracha, semente de cacau, outros produtos da terra e mercadorias entre as duas cidades.
Não se sabe o exato ano em que Francisco Seguin Dias se instalou com moradia fixa em Mocajuba. Entretanto, nunca teve casa na cidade, sua residência oficial e comércio estavam no Sítio Petrópolis, no Rio Tauaré, no lado da terra firme, na frente da ponta inicial da Ilha do Rufino. Seguin comprou aquele terreno, e em homenagem à cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro, colocou o nome do sítio de “Petrópolis”. Se o Sítio Petrópolis foi a residência de Seguin, desde sua instalação em Mocajuba, isto poderá significar que comprou o dito sítio antes da instalação de Sérgio em Mocajuba ou no mesmo tempo em que Sérgio se instalou com moradia e comercio em Mocajuba. Sérgio só foi para Mocajuba instalar comércio ali, não havendo outra razão para Sérgio escolher Mocajuba para morar. Se não fosse o comércio, ele permaneceria morando em Belém.


Resumo do Curriculum comercial de Sérgio Rascón Martinez.

- Sérgio Rascón Martínez trabalhava como regatão comercial, e como regatão foi para Mocajuba vender mercadorias, em 1905. Em Mocajuba conheceu o Sr. Francisco Seguin Dias, que também era regatão, trabalhando para o Sr. Mário Bentes. Os dois se conheceram em Mocajuba e tornaram-se amigos pessoais e comerciais.
- Sérgio fundou seu comércio em Mocajuba. “Em 1915, me estabeleci com comércio em Mocajuba”. O comércio armazém funcionava na sua própria residência, a Casa Itamaraty. Possuía barco, fábrica de fazer sabão de cacau e fábrica de fazer vinagre.
- Francisco Seguin Dias usou e manipulou a amizade e a confiança de Sérgio para ser seu sócio, num grupo de empresários comerciais, fundando a empresa “Seguin & Rascon”, cujo Sérgio era o sócio presidente, a sede empresarial funcionou na Casa Itamaraty. A firma, fundada em 05/021917, era um grupo de empresários, não havia franquia nem filial, era uma sociedade comercial de sócios empresariais. Seguin convenceu Sérgio, por meio da amizade, para a fundação da dita empresa. Sergio achou que era bom e promissor, aderiu ao projeto empresarial, mas o resultado final foi a sua ruína.
- Todos os antigos homens, empresários e comerciantes avulsos em Mocajuba, inclusive Sérgio Rascón Martínez e Francisco Seguin Dias não tinham o Registro Geral (RG, Carteira de Identidade, criada somente em 1907 ou 1939?) e o Cadastro de Pessoa Física (CPF, criado em 1964), tais documentos nunca aparecem em nenhum tipo de documentos e escrituras de cartório. Não existia a expressão Contrato Social para fundação de empresa. Abrir e extinguir uma empresa era demais fácil, bastava ir ao cartório e declarar uma escritura. Este foi o principal motivo para o Francisco Seguin Dias forçar a extinção da firma "Seguin & Rascón" e das outras sociedades para fundar uma nova empresa com outros sócios. As empresas não tinham a CNPJ: "No Brasil, o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (acrônimo: CNPJ) é um número único que identifica uma pessoa jurídica e outros tipos de arranjo jurídico sem personalidade jurídica (como condomínios, órgãos públicos, fundos) junto à Receita Federal brasileira (órgão do Ministério da Economia). O CNPJ compreende as informações cadastrais das entidades de interesse das administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e é necessário para processar (Art. 15, da Lei 11.419/2006). O CNPJ foi criado no dia 1º de julho de 1998, por intermédio da Instrução Normativa SRF nº 27/1998, como uma evolução do antigo Cadastro Geral de Contribuintes - CGC (Leis 4.503/64 e 5.614/70) e por vezes também é grafado como CNPJ-ME". Fonte: Wikipédia.
- Samuel Prudêncio de Souza Júnior, pai de Alcina de Clairefont Souza Seguin Dias, esposa de Seguin. Samuel Prudêncio de Souza Júnior, natural de Cametá, tinha um cunhado que lhe deu uma sociedade em firma, instaurada em Mocajuba. Samuel ergueu seu comércio como filial, no lugar Tauarezinho, na casa que o português José Fernandes Oliveira comprou para estabelecer seu comércio, na ilha diante dos Sítios Belo Horizonte e Bom Futuro, no outro lado do rio. Foi onde Nereu morou com a família depois do casamento com sua esposa Maria Marta. Samuel Prudêncio de Souza Júnior gerou a filha Alcina de Clairefont Souza Seguin Dias. Por causa do novo projeto comercial do dito cunhado, Seguin pediu para extinguir a empresa “Seguin & Rascon” em 1921, para permanecer somente com uma outra empresa fundada por ele, com outros sócios, a empresa Grandes Armazéns Petrópolis com sede no Sítio Petrópolis, e exigiu de Sérgio duas coisas: 1- uma indenização valiosa, avaliada na metade do custo da mercadoria, 2 e uma confissão de dívida. A “Confissão de dívida” iniciou a decadência comercial e financeira de Sérgio.
- Sérgio voltou a ser comerciante sozinho, sem empresa, ainda em 1921, houve o incêndio criminoso no seu comércio findo à ruína total.
- Sérgio voltou a ser regatão até o seu barco apodrecer, não podendo seguir viagem comercial, quando ele já estava com lepra.
- Sérgio seguiu a vida vendando sementes de cacau, borracha de seringueiras, ucuúba (virola surinamensis), e outros frutos da terra.


A escritura do Sítio Olaria, em Mocajuba, em 20 de novembro de 1914

Temos uma escritura original, escrita à mão, de 20 de novembro de 1914, sobre a compra do Sítio Olaria, na Ilha do Rufino, município de Mocajuba, comprado por Francisco Seguin Dias. A referida escritura original foi achada entre as variedades dos documentos de Sérgio Rascón Martínez, podendo indicar que se trata do mesmo terreno comprado por ele na Ilha do Rufino, o seu Sítio Olaria. O dito terreno do Sítio Olaria foi comprado por Sérgio no dia 24 de julho de 1931, conforme a escritura de compra.

Declaramos nos abaixo assinados, que somos senhores e possuidores de um terreno com 200 (duzentos) pés de cacaueiros, 17 (dezessete) seringueiras e mais árvores de utilidades, sitos na Ilha Rufino deste município, na margem esquerda (- digo direita-) do (rio) Tocantins, limitando-se pelo lado de baixo com o comprador, pelo centro com Leopoldo Pereira da Costa, lado decima com um Igarapezinho (o Igarapé Olaria), frente ao (rio) Tauarezinho, cujos cacaueiros, seringueiras e mais plantações. De nossa livre e espontânea vontade, fazemos venda irrevogável, e sem constrangimento algum, ao Sr. Francisco Seguin Dias, pelo preço e garantia certa de R$ 120,00 (cento e vinte mil reis), quantia essa recebida em moeda corrente, ao passarmos esta escritura, transferindo por essa forma na pessoa do comprador todo o direito, jus e domínio, que tínhamos nos ditos bens vendidos que por lei nos competia, prometendo passar-lhe escritura pública, quanto nos for exigido, não podendo nossos herdeiros em tempo algum reclamar sob esta venda, por ser firme e legal, e por tudo ser verdade, assinamos e presente escritura, em presença das testemunhas, também abaixo assinadas.
Tauaré, 20 de novembro de 1914
Luiz Rodrigues Pereira.
Arrogo de minha mãe Anna Pacheco Pereira
Domingos Pereira de Andrade.
Testemunhas: José Mathias de Vilhena.
                           Alípio Lima de Medeiros”.


quarta-feira, novembro 29, 2023

Parte 6 A vida de Sérgio Rascón Martínez no Pará, afastado de sua família original.

  

PARTE 6

A vida de Sérgio Rascón Martínez no Pará, afastado de sua família original.

Sérgio Rascón Martínez
Um imigrante espanhol no Brasil

Sérgio Rascón Martínez. Nasceu em Tábara, província de Zamora, região de “Castela e Leão” (região), nordeste da Espanha, no dia 07 de outubro de 1887, às 10 h da noite. Imigrou duas vezes para o Brasil: em 1889 e 1899. Morou e estudou na Colônia Ferreira Pena. Não quis ir com a família para São Paulo, permanecendo no Pará onde gerou filhos, netos, bisnetos, etc. Foi o primeiro marido de Custódia de Freitas Nogueira, por união estável. Morreu em Mocajuba, Pará, Brasil, aos 73 anos de idade, no dia 04 de outubro de 1960, às 19h (L.5; F.56; Nº 106).
Pela primeira vez, veio com seus pais e irmãos para o Brasil, aos dois anos de idade, quando ainda mamava, no ano de 1889. Voltou com a família para a Espanha, e em viagens com a família, conheceu as províncias, cidades e a capital da Espanha, Madrid; conheceu algumas cidades da França e a capital Paris.
Dez anos depois, aos 11 anos de idade, em 1899, e com a família foi morar na Colônia Ferreira Pena, antiga Estrada de Ferro de Bragança, município de Santa Isabel, Pará, Brasil.
Em 15 de novembro de 1889, houve a Proclamação da República no Brasil.
Sérgio estudava, e não queria morar na colônia e a vida de colono no interior. Buscou estudar e trabalhar ao mesmo tempo em Belém, a fim de construir um futuro próspero. Sérgio era educado, fino, elegante, clássico, de regras de etiquetas, vegetariano, culto, muito sábio, gostava de comprar livros, ler, ser informado, de acompanhar notícias e era amante de músicas clássicas. Com a mania de comprar livros, formou uma biblioteca pessoal. Sua mente era como uma enciclopédia viva. Possuía livros das culturas e raças dos povos, pedras preciosas, elementos químicos, mapas e lugares. Era conhecedor da matemática, latim, poesia, geografia, história, astronomia, universo, os corpos celestes, biologia, cultura dos povos. Desde cedo, acompanha os fenômenos da natureza, os eclipses e as fases da lua. Não só isso, sua conversa era sobre o que conhecia. Ele repassava o conhecimento, e as pessoas diziam que ele era como um cientista. Em 1910 houve a histeria pela passagem do cometa Halley (Na madrugada do dia 18 para 19 de maio de 1910, o cometa Halley visitou mais uma vez a Terra). Sérgio acompanhava as notícias sobre o cometa, e acompanhou sua passagem pelo céu. E passou a vida falando deste cometa, e de sua nova passagem para o ano de 1986. Possuía um binóculo. Usava um binóculo para acompanhar os fenômenos da natureza, os movimentos das nuvens e das chuvas, prevendo o tempo. Quando ele morou na Ilha do Rufino, no Rio Tauaré, no município de Mocajuba, passou a vida fazendo o uso do binóculo na cabeceira do longo trapiche na frente de sua casa, observando o tempo e os fenômenos da natureza. Depois de sua morte, o binóculo pertenceu por muitos anos, na casa de seu filho Nereu, no lugar Tauaré, até o material ser arruinado por ferrugens. Ele possuía uma cadeira de descanso, a cadeira espreguiçadeira, artesanal, feita de madeira de lei Acapú, colocada na cabeceira do trapiche, de onde ficava observando a natureza e conversando com os visitantes.
Em Mocajuba, há uma desinformação entre ponte e trapiche, muitos pensam que ponte e trapiche são a mesma coisa, e tudo chamam de ponte. Ponte é uma construção que liga uma coisa à outra, uma ponte sobre um rio liga uma margem à outra. Trapiche é um cais, construção com uma cabeceira, que não liga nada a nada, destinada à atracação de barcos; embarcadouro, píer. Cais é um ponto de embarque e desembarque nos portos, cursos de água, estações de estrada de ferro.
Seu pai morreu quando ele tinha cerca de 18 anos de idade. Há uma informação que ele fez faculdade de direito, mas abondou o estudo por motivo de trabalho.
Depois da morte de seu pai, a família imigrou para São Paulo. Sua mãe decepcionou-se com a vida difícil no estado do Pará, onde tudo era rude, difícil, atrasado e sem futuro. Iludida com a promessa de vida melhor em São Paulo, conforme os outros colonos espanhóis divulgavam, reuniu e conduziu a família para partir para São Paulo. Mas, Sérgio não quis ir com a família para São Paulo, pelos seguintes motivos:
- Em São Paulo, os espanhóis continuariam como colonos trabalhando em fazenda de café e em outras agriculturas, e ele não queria ser colono e trabalhador de baixa renda, queria vida melhor.
- Ele já estava trabalhando em Belém, onde podia prosperar financeiramente, e um dia ter a realização profissional e patrimônios, longe da vida do campo.
Segundo as informações passadas pelo próprio Sérgio ao seu filho Nereu Rascon de Freitas, na Colônia Ferreira Pena não havia escolaridade avançada, e para ele continuar os estudos, foi morar em Belém, na casa do seu primo Modesto, o alfaiate renomado, que tinha uma alfaiaria na Travessa João Alfredo com a Santo Antônio. Papai Nereu me pediu para eu ir a este endereço a saber que ainda havia por ali alguma pessoa por nome Martínez e Rascón. Sérgio morou na casa do ex-governador José Paes de Carvalho, onde também foi copeiro. Possivelmente o ofício como copeiro na casa do ex-governador foi o seu primeiro trabalho, e o primeiro passo para a sua independência financeira. Também morou na casa de uma senhora francesa rica que chamavam só de “Madame”. Trabalhou como empregado num hotel francês, possivelmente da família da “Madame”. Trabalhou em cassino, no Teatro da Paz e no armazém Solheiro & Companhia. Seu último trabalho em Belém foi na extinta loja armazém “Solheiro & Companhia” com o empresário do armazém. Foi neste armazém que ele se tornou um comerciante “regatão”. Era uma loja do grupo da “Casa Comercial Solheiro & Companhia”, da cidade de Melgaço, Pará, da família do Hermenegildo José Solheiro. 
Há uma mensagem de Sérgio Rascón Martínez, escrita à mão num papel avulso, solto, com linhas, que está comigo, falando de si mesmo, embora em poucas linhas, que diz:

Vim para o Brasil em 1897 ou 98, como imigrante, no governo do Dr. Paes de Carvalho, com meus pais. Fomos colonos da Colônia Ferreira Pena, Estrada de Ferro. Em 1905 vim para o (rio) Tocantins. Em 1915, me estabeleci com comércio em Mocajuba. Hoje vivo de cacaueiros e seringueiras.
Sérgio Rascón Martínez.

Passaporte não tenho, ficou nas mãos de meus pais que não existem mais. Outros documentos entreguei quando requeri o primeiro Título de Eleitor”.


          Governador José Paes de Carvalho trouxe da Espanha a Família Rascón Martínez para o Brasil, e a instalou na Colônia Ferreira Pena. Em seu governo idealizou e aprovou o símbolo do Escudo do Pará. Foto de 1899, ano em que a Família Rascón Martínez chegou ao Brasil pela segunda vez.
          José Paes de Carvalho, ou somente “Paes de Carvalho” como conhecido, governou o Pará nos anos 1897 a 1899. (“José Paes de Carvalho. Nascimento: 1850. Falecimento: 17/03/1943. Foi um médico e político brasileiro. Foi um dos fundadores do Clube Republicano do Pará. Médico humanitário, foi senador e segundo secretário da Assembleia Nacional Constituinte de 1890; depois, foi governador do Pará (1897 - 1899). Concorreu à vice-presidência da República nas eleições de 1894, derrotado pela chapa oficial de Manuel Vitorino, do Partido Republicano Federal”. Fonte: Wikipédia).

Segundo João de Palma Muniz (1916), o núcleo da Colônia Ferreira pena passou a existir a partir de 09 de março de 1898.
Quando Sérgio diz: “Vim para o Brasil em 1897 ou 98”, comete um erro de informação. Se ele sempre repetia ao dizer que imigrou pela segunda vez, para Brasil, aos doze anos de idade, mas na verdade ainda estava com 11 anos. Se ele nasceu no dia 07 de outubro de 1887, somente em 1899 estava com onze anos de idade. Como também, a segunda via de sua Certidão de Nascimento só foi expedida na Espanha no dia 20 de fevereiro de 1899, no intuito de tirar o novo passaporte. O passaporte foi emitido em Porto, Portugal, no dia 06 de março de 1899. José Rascón Temprano recebeu e assinou a passagem no dia 7 de março de 1899. A passagem foi assinada e liberada pelo cônsul geral, já aceita e assinada por José Rascón Temprano, no dia  8 de março de 1899. Segundo o que consta nas caixas documentais de imigração espanhola no no Arquivo Público do Estado do Pará, muitas passagens e passaportes foram emitidos entre os dias 4 a 14 de março daquela ano, para o navio a vapor Beneditc, podendo ser possível que viagem teve início entre os dias 9 a 14 ou depois deste. A viagem demorava em média 15 a 20 ou 30 dias, logo, no fim de março ou início de abril de 1899, a Família Rascón Martínez já estava no Brasil na segunda imigração.
Quando Sérgio diz: “Fomos colonos da Colônia Ferreira Pena, Estrada de Ferro”, indica que ele também foi colono estabelecido na Colônia Ferreira Pena, morador naquela colônia, como filho de colonos. Como morador na colônia, e filho de colonos, não significa que ele trabalhou nas terras.
A Família Rascón Martínez imigrou para o Brasil em 1899, na segunda imigração, sob a influência do governador Paes de Carvalho, com passagem paga pelo governo. Ou seja, foi Paes de Carvalho que trouxe a Família Rascón Martínez para o Brasil, em 1899, e a instalou na Colônia Ferreira Pena, no mesmo ano.
Se em 1899, Sérgio tinha onze anos de idade, pela segunda vez no Brasil, e se diz colono junto a seus pais, e naquele mesmo ano foi o último da gestão do governador Paes de Carvalho, logo ele morou e trabalhou como copeiro na residência de Paes de Carvalho, depois que já não era o governador do Pará.
Possivelmente, o trabalho de copeiro da residência de Paes de Carvalho, onde morou, foi seu primeiro ofício em Belém.


O retrato clássico, de parede, de Sérgio Rascón Martínez, pintado em São Paulo.





Retrato de Sérgio Rascón Martínez, quando ele tinha 18 anos de idade e quando trabalhava num hotel francês em Belém. Uma fotografia foi tirada em Belém por um alemão, na Rua João Alfredo, 25, segundo andar, próximo a antiga loja Brasileira, na chapa Nº 8. Fotografia que foi reproduzida em São Paulo. Sérgio deu a original para a sua filha Tereza, quando este lhe visitou no Tauaré, após seu casamento, e infelizmente ela não teve zelo pelo objeto que foi danificado e se perdeu. Sérgio mandou seu filho Nereu procurar pelo alemão em Belém, a fim dele produzir uma nova cópia, mas o dito alemão já não mais trabalhava ali, e havia uma nova loja de fotografia no local de outros proprietários. Então permaneceu só este retrato da fotografia produzida em quadro.
O retrato original de Sérgio Rascón Martínez, estava sob a custódia do próprio Sérgio, em sua residência na cidade de Mocajuba e depois na Ilha do Rufino, no lugar Tauaré, no mesmo município, até sua morte, passando para a custódia de seu filho Nereu que, depois, levou o quadro para sua casa própria na cidade de Mocajuba, permanecendo na mesma casa até o dia em que foi levado de volta para a residência de Nereu, no mesmo terreno de Sérgio, depois da morte de Maria Marta, a esposa de Nereu. Nos últimos anos de vida de Nereu, antes de sua morte, o próprio Nereu passou a custódia do quadro para seu filho Nei Pereira de Freitas, já em estado crítico e manchado. O quadro passou por scanner, a fim de ser digitalizado e editado por Nautilho Pereira de Freitas, que enviou para toda a família, o retrato editado e restaurado, como cópia do original.
Isto é apenas uma pintura chamada “retrato” de Sérgio Rascón Martínez, com base na sua pessoa real quando ele tinha 18 anos de idade. Desde a Idade Média era clássico (chique) ter um “retrato” de uma pessoa em casa. Isto vem desde os reis e famílias nobres. Houve os tempos que só famílias ricas tinham retratos. Quando o retrato se popularizou, depois da chegada da câmera fotográfica, e da produção da fotografia, os chamados “retratistas” perderam valor, indo oferecer a reprodução de retratos nas casas. Então toda família pobre já podia encomendar e ter um retrato em casa. Muitos “retratistas” registravam fotografia de pessoas, que eram reveladas, e no atelier, produziam a pintura do retrato olhando para a fotografia da pessoa, a fim de aproximar bastante o retrato da pessoa real. E, quando entravam a arte aos compradores, não entregavam a fotografia, mas só a pintura.
Na década de 80 do século XX (1 de janeiro de 1901 - 31 de dezembro de 2000), algumas pessoas ainda mandaram fazer retrato. E assim terminou a história dos “retratos” em pintura clássica.


Princípio da profissão comercial de Sérgio.

Se Sérgio nasceu em 07 de outubro de 1887, logo em outubro de 1905 completou 18 anos de idade, e no mesmo ano, possivelmente no dia 27 de novembro de 1905, ocorreu a morte de seu pai José Rascón Temprano, quando ele ainda estava com 18 anos de idade. Não existe prova da data da dita morte.
Em Belém Sérgio trabalhava na extinta loja armazém “Solheiro & Companhia” com o empresário do armazém. Foi neste armazém que ele se tornou um comerciante “regatão”. Era uma loja do grupo da “Casa Comercial Solheiro & Companhia”, da cidade de Melgaço, Pará, da família do Hermenegildo José Solheiro. As informações abaixo citarão o termo “regatão”, logo é preciso saber o que significa regatão no sentido universal e no sentido regional da Amazônia Brasileira:
Regatão: Adjetivo: Que regateia no preço, que insiste para obter um preço melhor ou mais baixo. / Substantivo masculino: Aquele que compra por atacado para vender a retalho, no varejo. / REGIONALISMO NO AMAZONAS: COMERCIANTE QUE VENDE SEUS PRODUTOS NUM BARCO E PARA EM VÁRIOS MUNICÍPIOS OU LUGARES PARA CONCRETIZAR SUAS VENDAS.
SOLHEIRO, Manuel José (*). Filho de Hermenegildo Solheiro, emigrante no Brasil, e de Adelaide Joaquina Alves. N.p. de António Bernardo Solheiro e de Maria Joaquina Ribeiro; n.m. de Domingos José Alves e de Maria Caetana Gaioso, moradores na Vila de Melgaço. Nasceu em Galvão a 12/7/1877 (confrontar a data de nascimento de sua irmã, Ermezenda) e foi batizado a 17 desse mês e ano. Padrinhos: Manuel de Jesus Puga e José Cândido Gomes de Albreu, solteiros, comerciantes. // Depois da instrução primária foi arranjar emprego no Porto na área do comércio. // Embarcou para Pará por volta de 1893; no Brasil trabalhou na firma Solheiro & Mota, passando depois a ser sócio da mesma, agora com a designação de Solheiro & C.ª. // Nos inícios de 1916 as firmas comerciais com sede em Pará, Solheiro & C.ª ´e Silva & Loureiro´compostas exclusivamente de melgacenses, adquiriram por compra, do [ou ao] Banco de Crédito Popular, o vapor São Pedro´destinado à navegação fluvial das Ilhas, a serviço das suas casas aviadoras e de outras que quisessem utilizar o paquete; a inauguração da nova linha teve lugar a 24/1/1916 à noite. // Casou civilmente, na administração do concelho, a 10/7/1912, com Amália Augusta, filha dos proprietários da Farmácia Araújo´Domingos Ferreira de Araujo e Amália Correia dos Santos; casaram na igreja de Prado a 11/7/1912. Padrinhos no civil: Júlia Correia dos Santos e Dr. Vitoriano Figueiredo e Castro (noiva); Leolinda Solheiro e Cícero Cândido Solheiro (noivo). No religioso: Amália Ferreira de Araújo e Domingos Ferreira de Araújo (noiva); Sara Solheiro de Oliveira e Hermenegildo José Solheiro (noivo). // Seguiram ambos para o Brasil, chegando a Pará a 10/10/1912, onde ele era comerciante, com a firma Solheiro & Companhia´ No dia 3/12/1914 chegaram a Lisboa vindos do Brasil . // A 28/1/1915 a sua esposa deu à luz um nado-morto, o qual foi sepultado no cemitério da Vila; morava no lugar da Serra, Prado. // Em 1916 regressa a Melgaço. // Embarca novamente para Pará a 20/1/1917, chegando ao destino a 11/2/1917. // Ele faleceu em Pará, Brasil, em Fevereiro de 1926. // A sua viúva finou-se em São Paio dos Arcos de Valdevez a 12/7/1969. // Pai de Luís Manuel e de Vasco. // Nota: fora ele quem mandara construir a casa e plantar a vinha junto ao posto da Guarda-Fiscal de Mourentão. /// (*) O Dr. Augusto César Esteves chama-lhe José Manuel e diz que nasceu a 30/5/1877; a sua irmã Ermezenda teria nascido, segundo ele, a 11/6/1877. Seria, portanto, gémeo de Ermezenda, mas com uma diferença de dez dias!
(Correio de Melgaço n.º 188, de 27/2/1916),  (Correio de Melgaço n.º 6),  (Correio de Melgaço n.º 19, de 13/10/1912), (Correio de Melgaço n.º 128, de 8/12/1914),  (Correio de Melgaço n.º 135, de 2/2/1915),  (Correio de Melgaço n.º 194, de 9/4/1916),  (Correio de Melgaço n.º 237, de 18/2/1917), O Meu Livro das Gerações Melgacenses´ II volume, p.p. 205 e 206).
O “Clico da borracha da Amazônia” ocorreu entre os anos 1880 a 1910 ou 1879 a 1912. A borracha extraída das seringueiras (látex) ainda tinha alto valor e rendia muito lucro financeiro, levando a cobiça dos empresários de Belém a irem para as colônias de seringais e cacauais da Amazônia atrás da exploração, cultivo, compra e venda da borracha (látex), sementes de cacau, madeira, castanha do Pará e outros produtos da terra. Os comerciantes de Belém mandavam seus empregados homens a navegarem, como vendedores regatões, pelos rios e ilhas da Amazônia, vendendo mercadorias em varejo e atacados. Este serviço de comercialização era um modo de vender as mercadorias dos estoques, desocupar e renovar os estoques das mercadorias, crescimento comercial lucro e concorrência acirrada com outros comerciantes. Era preciso concorrer e vender.
No Pará, o Rio Tocantins foi explorado em suas margens por comerciantes e colonos de muitas nacionalidades estrangeiras. Em Mocajuba, especificamente nas regiões do Tauaré, Tauarezinho e Tauaré Grande, estabeleceram-se comerciantes espanhóis, portugueses, turcos, alemãs, etc. Ainda ocorria o processo da colonização da Amazônia e do Brasil. Em Mocajuba, na região Tauaré, o lugar recebeu colonos entres os anos de 1898 e 1899, quando o governador do Pará, José Paes de Carvalho, introduzia colonos europeus, turcos e judeus pelas regiões e distritos do Pará. Então, mais tarde, quando Sérgio chegou naquela região, tudo estava civilizado e aberto ao comércio.
Esta foi a vida de Sérgio como regatão: Sérgio Rascón Martínez passou a navegar pelos rios Amazônicos a serviço do empresário do armazém “Solheiro & Companhia” na qualidade de regatão e mercador, pois também comprava os produtos da terra para revender. (Mercador é: 1. Que ou quem compra para revender. 2. Que ou quem é negociante de panos). A borracha era comprada para a revenda. No barco comercial, e como regatão, Sérgio vendia mercadorias em atacado e varejo nas cidades, vilas, povoados e sítios por onde passava navegando nas margens da terra firme e nas ilhas. Vendia-se de tudo, como: alimentos, enlatados, azeite de oliva, vinagre, variedades de doces, variedades de biscoitos, bolachas, cigarro, bebida, combustíveis, fósforo, sal, açúcar, remédios para todos os efeitos, veneno, cal, tinta, armas de caça, materiais para caça e pesca, arpão zagaia, variedades de arpões, escova de lavar roupas, escovão, bijuteria, diadema, chapéu, ralador de alimento, ferro de passar roupa, fechaduras, ferrolho, dobradiças para portas e janelas, cadeado, materiais para calhas em telhado das residências, crivo, forno, fogão, “boca de fogão” a carvão, grelhas para assar alimentos, alguidar, enxada, facão, chumbo, foice, pote, jarro, lampião, lamparina, lanterna, rádio, pilhas para lanternas e rádio, funil, moinho, alicate, serrote, serradeira, forja, martelo, marreta, prego, parafuso, materiais de carpintaria, chave de fenda, luvas, botas de trabalho, ancinhos, vassoura, artigos de decoração, máquina de costura, agulha, roupas, botão para roupas, botão colchete e rendas para roupas, sandálias, calçados para homem e mulher, meias, gravata, terno, cinturão, toalha, lençol, manta, cobertor, mosquiteiro, rede para dormir, corda, variedades de fios e de fitas, arame, tacho, relógio, bacia, penico, panela, tigela, prato, talheres, taça, copo, xícara, vaso, ânfora, roupas, pano para fazer roupas, lâmina, barbeador, tesoura, faca, canivete, espelho, esmalte, matérias de maquiagem, pente, creme dental, cremes e óleo para cabelo (inclusive vaselina, óleo de mutamba e outras pomadas e óleos), perfume, sabão, óleo de cozinha, livros, revistas, jornais, régua, lápis, caneta de escrever, materiais escolares, cadernos, folha de papel, variedades de papel para escrever e para embrulhos, sacos, sacolas, bolsas, malas, brinquedos, etc. Sérgio abastecia os comércios ribeirinhos com as mercadorias vindas de Belém. Como também, havia as “encomendas” feitas pelos “fregueses” aos regatões. Também havia os artigos religiosos como bíblia, livros, quadros e imagens de santos, crucifixo e terços oferecidos pelos regatões. Os “fregueses” avulsos e os comerciantes ribeirinhos ‘encomendavam’ as mercadorias aos regatões, para levarem a eles na próxima viagem vinda de Belém. Era um tipo de “correio” comercial. Havia muita reponsabilidade da parte dos regatões, eles levaram fielmente mercadoria solicitada pelos fregueses. Os regatões também iludiam os fregueses ribeirinhos com as novidades de produtos vindos de São Paulo e da Europa, as mercadorias como a “novidade do momento” eram compradas.
Sérgio se encantou com os rios da Amazônia no Estado do Pará, e começou a juntar muito dinheiro com a venda das mercadorias, abastecendo cidades, vilas, povoados, comércios, famílias e sítios situados às margens dos rios. Segundo a uma informação, foi isto a principal causa que o levou a abandonar os estudos na faculdade.
XXX


Anexo
Este anexo não faz parte da história da família, só é colocado no blog como fonte de pesquisa

Casa Comercial Solheiro & Companhia


UM HOMEM DE CARÁTER
(Um perfeito cavalheiro)
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
Por Joaquim A. Rocha


SOLHEIRO, Hermenegildo José. Filho de Hermenegildo Solheiro e de Adelaide Joaquina Alves. Neto paterno de António Bernardo Solheiro e de Maria Joaquina Ribeiro; neto materno de Domingos José Alves, ferreiro, e de Maria Caetana Gaioso, moradores na Calçada. Nasceu na Vila a 19/4/1868 e foi batizado a 26 desse mês e ano. Padrinhos: Manuel José Esteves “Melgaço”, casado, do lugar de Eiró, Rouças, e tocou por madrinha José Manuel Nunes de Almeida, solteiro, morador na Vila. // Aos catorze anos de idade (1882) embarcou para o Brasil, para junto de seu pai, negociante nessa parte do planeta. Nunca esqueceu Melgaço. Logo que podia visitava a sua terra natal. A 22/4/1900 cá estava ele. Regressou ao Brasil, mas em 1907 voltava, em companhia de Artur Pires Teixeira. Numa dessas visitas conheceu a sua futura esposa. // Morava em Prado, era solteiro, proprietário, quando casou na igreja de SMP a 17/9/1906 com Maria Leonor, de vinte e dois anos de idade, nascida em Miragaia, Porto, a 17/9/1884, filha de Manuel José da Mota, industrial portuense, e de Maria das Dores Gonçalves, neta materna de Manuel Caetano Gonçalves e de Marcelina da Glória da Rocha, e irmã de Julieta La Salete da Mota, casada com o Dr. Henrique Pinto Albuquerque Stockler. // A 9/6/1912, juntamente com seu cunhado, António Francisco de Oliveira, e outros, fundou o jornal “Correio de Melgaço”, que termina no número 251, de 27/5/1917, e do qual foi proprietário e diretor. // Em 1913, aquando do recenseamento eleitoral, foi excluído, não podendo votar, devido a uma reclamação feita por António Evangelista Pereira. O visado recorreu para o tribunal superior, o qual considerou ter havido lapso, considerando-o apto a votar (Correio de Melgaço n.º 68, de 28/9/1913). Logo a seguir encabeça a lista de candidatos à Câmara (Correio de Melgaço n.º 76, de 23/11/1913). // A 6/2/1914 embarca no vapor Hilary com destino a Pará (Correio de Melgaço n.º 85, de 1/2/1914). // Nesse ano de 1914 foi eleito, por grande maioria dos votos, para o Conselho Fiscal da Companhia de Seguros Lloyd Paraense (Correio de Melgaço n.º 104, de 23/6/1914). // Em 1915 pertencia ao Conselho Fiscal da firma B. Antunes & C.ª - Companhia Aviadora da Amazónia (Correio de Melgaço n.º 175, de 21/11/1915). // Chegou a Lisboa, vindo de Pará, a 30/4/1916. // Entre os anos de 1915 e 1919 mandou erguer, nos Esparizes, Galvão, uma linda vivenda, mais tarde conhecida por “Vila Solheiro”, que ainda no século XXI se pode admirar. // Deu um salto a Portugal em Abril de 1916 (CM 196, de 23/4/1916); chegou à Barronda, Prado, a 20/5/1916, sábado; de Lisboa vinha acompanhado pela mãe, pela esposa, e filhos – Marieta e Hermenegildo. Parte novamente para Belém de Pará a 17 de Julho desse ano; chega ao Brasil com a esposa e filhos a 3/8/1916 (ver CM 207, de 16/7/1916, e CM 210). Logo a seguir toma conta da gerência do “Lloyd Paraense”; e por impedimento de António Alves da Silva é ele nomeado diretor do Banco de Crédito Popular (Correio de Melgaço n.º 220, de 15/10/1916). // Em 1922 estava em Melgaço, pois nesse ano, a 20 de Janeiro, foi padrinho de Maria de Lurdes Silva, nascida em Galvão de Baixo a 12/10/1921. // A 21/2/1926, com Ernesto Viriato Ferreira da Silva, Dr. José Joaquim Durães e professor Abel Nogueira Dantas, lançou o semanário político e noticioso “Melgacense”. Ferreira da Silva era o diretor, Nogueira Dantas o editor, ele o redator. Durou até 1929 (surgindo nesse ano o “Notícias de Melgaço” - 2.ª versão). // Foi provedor da SCMM a partir de 1927 (nesse ano fez aprovar os seus estatutos, os quais vigoraram até 1981!) // Foi administrador do concelho e presidente da Comissão Administrativa (equivalente a presidente da Câmara) entre 1926 e 1931. Nesse período construiu-se o Mercado Municipal, o edifício dos Paços do Concelho, repavimentaram-se as Ruas da Calçada e do Rio do Porto, deu-se início à eletrificação da Vila. Tentou concretizar o projeto da construção da Avenida (Alameda Inês Negra) mas a vida não lhe deu mais tempo. Lutou pela vinda do comboio até Melgaço, mas nada conseguiu. // Não era pessoa de meias medidas: em 1929, juntamente com os outros membros da Comissão Administrativa da CMM, padre Artur da Ascensão Almeida, Hilário Alves Gonçalves e José Caetano Gomes, obrigou o editor do “Notícias de Melgaço” a divulgar o autor de um artigo, designado “Por Melgaço”, publicado nesse jornal a 21/4/1929, o qual punha em causa, segundo a Comissão, algumas medidas tomadas por esta. O autor da “local” era o médico Dr. António Cândido Esteves, irmão do Dr. Augusto César Esteves, republicanos convictos. O clínico deu a cara, declarando que não era sua intenção melindrar ninguém, apenas quis chamar a atenção dos leitores para alguns atos da administração, sobretudo aqueles que diziam respeito a gastos com viagens dos membros da dita Comissão, concretamente a Sevilha, cuja Exposição nada tinha a ver com os interesses de Melgaço. A resposta tem a data de 27/5/1929. Não sei como as coisas ficaram, só sei que o médico Dr. Esteves fez parte da lista negra do designado Estado Novo, embora a sua hostilidade fosse pacífica. // Hermenegildo José Solheiro morreu em Galvão a 21/8/1931, sexta-feira; os seus restos mortais jazem no cemitério municipal de Melgaço. // Alguém escreveu depois da sua morte: “era, como se costuma dizer, o homem certo no lugar certo; era, sobretudo, um sólido carácter e o expoente máximo da correcção e honestidade”.

Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 122, de 23/8/1931: “Morreu Hermenegildo Solheiro. Embora soubéssemos que há oito dias as parcas andavam dançando em torno dos fios da sua existência e que sob o seu nome no livro dos vivos jazia uma esponja sempre pronta para o apagar, longe de nós esvoaçava o pensamento do seu tão rápido desenlace. // A triste notícia, correndo veloz às primeiras horas de sexta-feira, deixou-nos surpreso, dolorosamente emocionado. Ainda na véspera o tínhamos visto a caminho dos Paços do Concelho, sorridente, sonhando, talvez, com um Melgaço maior, passeou nas ruas da nossa Vila e ninguém viu nele o homem, cansado pelos anos ou abatido pelos desgostos, que andasse dizendo o eterno adeus à sua terra ou dirigindo as últimas saudações aos seus amigos. // O seu ânimo viril enganou-o, decerto, quando mediu as suas forças físicas, porque não meteu (*) em linha de conta as energias desbaratadas em uma tenaz luta pela existência na cidade do Pará, e o seu arcaboiço rijo ludribiou também os nossos olhos, porque ninguém se lembrou que os fortes baqueiam, como os fracos, quando a morte surge. // H.S. morreu! Perante o seu falecimento curvem-se os melgacenses, agora, porque perante a majestade da morte a ninguém fica mal manifestar respeito. // Provedor da SCMM, Administrador e Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Melgaço durante o último período político (**), H.S. deixa uma obra que a História há-de classificar serena e imparcialmente (***). Mas seja qual for o veredictum do futuro, o concelho deve reconhecer H.S. como um melgacense que dedicou os últimos anos da sua vida ao engrandecimento da sua [e nossa] terra. // É cedo, sem dúvida, para se fazer a história política dos últimos anos, porque as paixões ainda se entrechocam e os ódios refervem (****); mas quando aquelas acalmarem e estes arrefecerem, quando a paz voltar aos espíritos e o bom senso de novo os iluminar, talvez todos reconheçamos que H.S. combateu por um Melgaço maior, sacrificando-se pelo seu engrandecimento e, quiçá, por causa deste abreviou os últimos dias da sua vida. // Conforme tinha sido marcado, chegou às dez horas o Excelentíssimo Senhor Governador Civil do distrito, acompanhado dos Excelentíssimos Senhores major António Ramos e capitão Licínio Presa. À entrada na câmara funerária havia olhos marejados de lágrimas na vasta assistência e aos ilustres recém-chegados, comovidos, viu-se-lhes borbulhar nos olhos as lágrimas sentidas da perda irreparável. De seguida organizou-se o funeral, com um acompanhamento numerosíssimo, dia pardo e de neblina – que, como crepes, rodeava a Vila enlutada, e uma chuva miudinha caía, chorando por ele, e representando-nos a todos. Até a atmosfera estava triste, pesada – bem a par de todos os corações a repercutir-se toda no sentimento geral. Agora, na carreta dos nossos bombeiros, que o acompanharam na sua máxima força, segue o cortejo fúnebre ao som de uma marcha que contagia e faz vibrar tristemente a sensibilidade. A chave da urna é conduzida por Sua Excelência, o Senhor Governador Civil. Foram organizados, até à igreja matriz da Vila, os seguintes turnos: 1.º - major Dr. António Ramos, capitão Licínio Presa, capitão Luís Augusto de Carvalho, alferes Manuel Joaquim. // 2.º - Conselheiro Dr. Manuel Fernandes Pinto, Dr. Augusto César Ribeiro Lima, Dr. Sérgio Saavedra, Frederico Augusto dos Santos Lima, João Pires Teixeira, João Barros Durães. // 3.º - Dr. José Joaquim da Rocha, João Eugénio da Costa Lucena, José Caetano Gomes, José Luís Lopes, António José de Barros, Bento Fernandes Pinto. // 4.º - Francisco A. Guimarães, António Joaquim de Sousa, Mário Ranhada, Gaspar de Figueiredo, Raul Vilarinho, António Rocha. // E da igreja para o cemitério: 1.º - capitão Augusto de Carvalho, alferes Manuel Joaquim, João Lucena, Luís Manuel de Vasconcelos. // 2.º - Sargento Eleutério P. Mendonça, Cândido Augusto Esteves, Hilário Alves Gonçalves, José Maria Pereira. // 3.º - Angel Valverde, Jesus Valverde, José Reina, Manuel Gonçalves da Costa. // 4.º - Ricardo Cordeiro Junior, António Mendes, Domingos Alves Silva, António José Alves. // Os senhores Dr. Henrique Fernandes Pinto, residente em Lisboa, e Eng.º Júlio José de Brito, do Porto, fizeram-se representar pelo senhor Duarte de Magalhães, e o senhor António José de Pinho, presidente da Câmara Municipal de Monção, pelo senhor Dr. Augusto Lima. À missa e ofício de corpo presente assistiram catorze eclesiásticos, os quais se encorporaram também no funeral. A ornamentação da igreja, a cargo do senhor Aurélio de Azevedo, nada deixou a desejar. Sobre o féretro, coberto com o estandarte da Câmara Municipal de Melgaço, foram depostas muitas coroas e bouquês, oferecidas pela família do ilustre extinto e de pessoas das suas relações e amizade. Desde que foi conhecida a sua morte, o comércio da Vila e de Prado, em sinal de sentimento, ficaram com meias portas abertas e à passagem do funeral encerraram totalmente. Nos edifícios públicos viu-se a bandeira nacional a meia adriça. // Nesta hora de profundo luto para todo o concelho o Notícias de Melgaço apresenta à ilustre família do finado a expressão bem sincera e muito sentida da sua condolência.”


(*) /// Leia-se: “porque não teve, ou levou, em linha de conta...” /// (**) Foi presidente da Comissão Administrativa da CMM, de 1926 (após a queda da I República) até à sua morte, em Agosto de 1931. /// (***) Fez muito, comparando com o que outros antes dele fizeram, e sem dinheiro nos cofres da Câmara; no entanto, pouco deixou feito, tendo em conta o muito que havia para fazer. Quando aconteceu o 25 de Abril de 1974, Melgaço podia considerar-se uma vila medieval: ruas sujas, empedradas, várias casas em ruínas, pouca gente, muita pobreza, analfabetismo, etc. Felizmente surgiu em cena o seu neto, Rui Solheiro, que – embora muito criticado pela oposição – continuou a obra de seu avô paterno. /// (****) Não nos esqueçamos que ele, ao aceitar aquele cargo político, acabou por se tornar inimigo declarado dos republicanos da 1.ª República.

Escreveu J. Ribeiro no Notícias de Melgaço n.º 122, de 23/8/1931 (Prado, 23/8/1931): “Melgaço está de luto! O principal baluarte da sua fortaleza financial ruiu por terra ao sopro devastador da morte. Todos os melgacenses cobrem crepes nesta ocasião, pois um filho da terra de Melgaço tombou sob a fria lousa do sepulcro: Hermenegildo Solheiro. Querido ente melgacense: adeus! // Quem não admira a obra financial deste verdadeiro homem público? Quem, conhecendo de perto o seu amor acrisolado pela sua terra natal lhe regateará os méritos a que fez jus? Ninguém; posso afirmá-lo sem pejo. Desde que, em terras de Santa Cruz, começou a exercer a sua atividade como verdadeiro financeiro, já como diretor do Banco de Crédito Popular no Pará, já como diretor da Companhia de Seguros Lloyd Paraense, já como chefe gerente da Casa Comercial Solheiro & Companhia, era de prever que ao tomar conta do espinhoso cargo de administrador do erário público de Melgaço se havia de impor pelo engrandecimento desta terra que lhe serviu de berço, pois amava a sua terra como um filho ama a sua mãe. // Tudo revela bairrismo em Hermenegildo Solheiro. Não é preciso enumerar os seus serviços pelo engrandecimento da sua terra durante a sua gestão governamental. São coisas palpáveis que o afirmam e que ficam legadas às gerações vindouras como relíquias do passado, engrandecimento cada vez maior do nome do seu augusto filho. // Melgaço está de luto, digo eu, pois o coração de todo o melgacense que se preze deve estar altamente sensibilizado com o prejuízo que acaba de sofrer. // A obra iniciada por Hermenegil Solheiro deve ter um continuador e Deus queira que com qualidades bairristas e elevadas como as do que hoje todo Melgaço pranteia. A política posta de parte, o amor concentrado por esta terra que principiou, embora tarde, a entrar na senda do progresso, são os principais factores para a realização do ressurgimento regional de Melgaço. Assim eu cheguei a compreender o gigante que caiu! // Assim é que devem ser os continuadores da sua obra. // Uma prece a Deus pela sua alma! Uma recordação constante dos seus feitos é a que todo o filho de Melgaço deve sentir para maior engrandecimento dos seus méritos, perante Deus e perante os homens”.

Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 123, de 6/9/1931: “Das poucas vezes que leio jornais diários apresso-me sempre a ver se encontro notícias da minha terra. Em correspondência de Melgaço, o Comércio do Porto, de 22, transmitia a todos os meus patrícios, ausentes em terras estranhas, a triste notícia do falecimento, no dia 21, do conterrâneo ilustre, que em vida se chamou HJS. // A morte, em sua garra adunca, acaba de levar para o além a alma daquele que entranhadamente amava a sua terra natal. Esta compungidora notícia veio enlutar o meu coração de melgacense, porque a esta hora também se encontra de luto a terra que me viu nascer. Os crepes lutuosos da tristeza adejam por sobre as rotas muralhas do velho burgo, que o pulso férreo do que agora jaz por terra, se a morte o não prosta, teria conseguido fazer (do mesmo) uma terra progressiva e uma das mais encantadoras do nosso Minho. // A obra de embelezamento de Melgaço, começada por HJS, sobre o impulso da sua vontade, seria grandiosa (*), se a morte, com o seu brusco repelão, a não vem interromper. // Fica órfã, e eternamente vaga, a sua cadeira no município de Melgaço, porque homens da envergadura de HS são, nos tempos que correm, de um egoísmo utilitário como os meteoros que só de séculos a séculos passam por sobre a terra, deixando da sua passagem um rasto de luz, que o tempo apaga, mas de quem a recordação fica a perpetuar-lhe a memória. // Eu, como melgacense, que ama enternecidamente a sua terra, daqui, deste cantinho que se debruça sobre as águas do Lethes, ou Lima, rio saudoso, que foi cantado por Bernardes e Feijó, associo-me à dor que o povo da minha terra neste transe amargurado sente pela perda irreparável do eminente cidadão que tão devotadamente se empenhava pelo seu caminhar progressivo. // Que a terra-mãe o receba amorosamente em seu seio; e que as lágrimas de saudade de todo o povo do concelho lhe vão orvalhar a sepultura com o pranto da sua gratidão; gratidão bem merecida, por aquele que somente mantinha a ambição de fazer alguma coisa verdadeiramente grande e que deixa uma lacuna, que não sei quando se preencherá. // Terra minha, querida, por que desejas guardar em teu seio um corpo, que continha em si os mais amplos projetos do teu embelezamento? // Guarda-o com os (…) afetos que ele te tributava e que os vindouros lhe reverenciem a sua memória, digna da vossa eterna gratidão”. L. A. Rodrigues. Ponte de Lima, 22/8/1931.

No dito jornal, Noticias de Melgaço n.º 123, lê-se: “Para presidir aos destinos do nosso município foi escolhido o nosso estimado amigo senhor João de Barros Durães, farmacêutico pela Universidade de Coimbra. // Acertada escolha, tanto mais que o recém-nomeado, privando de perto com o saudoso HS, sabia bem o programa traçado para o engrandecimento de Melgaço. Parabéns aos melgacenses.

HJS – Missa do 30.º dia – Convite. A CMM convida todas as pessoas a assistir a uma missa que, no dia 21 do corrente, pelas nove horas, mandará rezar na igreja matriz desta Vila, sufragando a alma do seu saudoso presidente, senhor Hermenegildo José Solheiro. Desde já agradece. Melgaço, 10/9/1931”. NM 124, de 13/9/1931.

Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 135, de 10/1/1932: “Homenagem: verdadeira, perfeita, significante, foi a de hoje. Inauguração dos Paços do Concelho, discursos, romagem ao cemitério da Vila; tudo o que necessário era para pôr à evidência, altissonante, o mérito de alguém. Que beleza em tudo! Agora, é o valor intrínseco, desse alguém, que é apresentado tal qual o merecia; logo, o respeito que todos os melgacenses, que prezam esse nome, lhe tributaram; finalmente para Hermenegildo (…) Que beleza em tudo! Beleza, porque esta palavra significa o que é belo no seu sentimento, no coração. E houve alguém que não tivesse sentimentos belos na homenagem [que se fez no] cemitério no dia de hoje? Foi um preito de homenagem a HS. // Não é preciso dizer mais nada. O nome deste homem encerra em si o valor do presente que todos devemos e temos obrigação de admirar; e (quiçá?) o futuro, a que igualmente todos nós, os melgacenses, temos obrigação de aspirar. Eis o motivo por que eu digo que foi bela a manifestação de hoje. O concelho de Melgaço sabe corresponder ao respeito que merecia o inesquecível HS, presidente da Câmara Municipal de Melgaço, afluindo na sua maior parte, ao tributo que lhe foi prestado e que representou uma verdadeira apoteose”. Prado, 6/1/1932. J. Ribeiro.

Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 150, de 22/5/1932, um artigo escrito pelo capitão Luís A. de Carvalho, onde se fala de H.J.S.: “Finalizando, diremos ao correspondente a razão por que invocamos e invocaremos o nome do saudoso Solheiro. Era homem de carácter, e pelos factos que vamos contar é que o apreciamos. Dias depois de aqui chegarmos fomos às Águas do Peso. Ali encontramos o Governador Civil e o hoje falecido Solheiro. Cumprimentamos, e como com ambos mantínhamos boas relações pessoais, juntando, às do primeiro, boa camaradagem que tínhamos tido, pedimos melhoramentos para a nossa terra e, ao primeiro, o seu valioso concurso de Magistrado Administrativo. Tempos depois, ainda não conhecíamos o meio, falando com alguém da conversa havida, foi-nos dito: “o Solheiro é impolítico; se tivesse larguezas políticas tinha nomeado o Dr. António Cândido Esteves, e com isto conquistava as amizades políticas deste e da sua família.” Mais adiante, em uma conversa, depreciava-se a acção da sua obra… Dizia-se: “fê-lo devido à situação excepcional, e mesmo assim deixa o povo carregado de impostos e de encargos [sobretudo de juros à CGD] por largos anos… etc.” Pois os autores dos ditos, eram, como presenciamos, alguns bajuladores e que diante dele curvavam a espinha. E ele, sempre altivo, sorridente, deixava-os… e passava adiante, e não vendera o seu carácter por uma nomeação… Entendam-me bem. Por isso, ao ele passar à última jazida, nas nossas sinceras palavras, exteriorizamos o que nos ia na alma.

Lê-se no Notícias de Melgaço n.º 160, de 7/8/1932: “A Câmara Municipal deste concelho, comemorando o 1.º aniversário da morte do seu saudoso presidente, Hermenegildo José Solheiro, convida todas as pessoas a assistirem a três missas, que no dia vinte e dois do corrente, pelas dez horas oficiais, manda rezar na igreja matriz desta vila. Desde já, agradece”. Melgaço, 5/8/1932.

No Notícias de Melgaço n.º 162, de 28/8/1932, José Augusto Alves diz-nos que já decorreu um ano depois da sua morte: “Com a devida vénia gostosamente transcrevemos do Diário do Minho de 21 do corrente o que se diz acerca deste ilustre melgacense por ocasião do seu 1.º aniversário fúnebre – “Ao galgar, na voragem que passa, a escarpada encosta do tempo, encontrei lá em baixo, no vale do passado, junto dos nossos caros irmãos de além campa, o frio túmulo do saudoso H.S. // As suas cinzas venerandas humecidas ainda pelas lágrimas quentes dos amigos e orvalhadas pelo rocio suavíssimo das preces ferverosas dos crentes, descansam à sombra reconfortante da cruz, em que Cristo agonizou; daquela cruz que é a mais alta cátedra de ensino que o mundo viu e que ainda na sua muda linguagem nos dá as lições eloquentes do maior mestre; daquela cruz, leito augusto do salvador dos homens, lenho sagrado onde se passou a maior e mais emocionante epopeia de amor: daquela cruz que é o símbolo mais perfeito e completo da liberdade, igualdade e fraternidade. // É ali, na região dos mortos, que descansa aquele que foi em vida o maior melgacense dos últimos tempos. Franco, leal, sincero, justo, equitativo, H.S. passou como um meteoro fulgurante, deixando um rasto luminoso a mostrar o caminho que deviam seguir os seus sucessores e a vincar os princípios que os deviam orientar no desempenho da sua missão. // Dificuldades, não deixou. Essas – tantas, e tamanhas que eram – removeu-as ele. Dotado de uma grande força de vontade, de uma coragem insuperável, e de uma dedicação extrema pelo nosso rincão querido, tomou-o carinhosamente nos seus braços e colocou-o na vanguarda do progresso. // Andava embrenhado nesta augusta missão quando a morte o veio [roubar] ao convívio dos seus [parentes] e dos amigos. Intransigente com os princípios, homem de ordem e de caráter, H.S. nunca atendeu pedidos que comprometessem a sua autoridade ou que truncassem os princípios da equidade e da justiça. // A maior das suas aspirações, aspiração palpitante, fascinadora, que bem o pode colocar na vanguarda dos mais intrépidos paladinos que se tem batido por Melgaço, era o engrandecimento de tudo que se ligasse com o interesse da sua terra. – “O meu fim, o meu intento” - escrevia-me ele antes de morrer – é trabalhar sempre por bem servir a minha terra, removendo por completo a sua face”. E quase a terminar: - “enquanto Melgaço precisar de mim continuarei a servi-lo, a orientar os seus destinos, depois entrego”. Não chegou a entregar. Esgotou-se, e sucumbiu vítima do seu amor, do seu carinho por Melgaço. // Melgaço chorou amargamente a sua morte e vai-a pagando bem caro. // Desfolhando sobre a fria campa de H.S. pétalas de saudade, respeito e veneração, faço votos porque apareçam homens de igual envergadura, de igual nobreza de caráter, firmeza e sinceridade, a continuarem a sua obra, ao mesmo tempo que peço preces pelo seu eterno descanso”. JAA // Comentário: embora Hermenegildo José Solheiro mereça alguns elogios, não se pode exagerar nessa oferta, tendo em conta que ele pouco fez quando havia imenso para fazer no diz respeito a obras públicas. A obra principal realizada pela sua equipa foi sem dúvida o Paço (ou Paços) do Concelho, pois aquele que havia (mais tarde o Solar do Alvarinho) era exíguo e estava ultrapassado no tempo e entalado entre ruas estreitas. Pediu dinheiro emprestado à CGD para esse fim, expropiou um terreno de João Pires Teixeira, e o “palacete” tornou-se uma realidade. Acontece, porém, que legou uma grande dívida aos que lhe sucederam no governo da Câmara Municipal.

A sua viúva finou-se em Galvão, na “Vila Solheiro”, a 20/2/1974, com oitenta e nove anos de idade. // Pai de Armando, de Hermenegildo José, de Manuel, de Carlos, de Marieta, de Clarisse e de Maria Leonor. // A lembrá-lo, há na Vila um Largo e uma Rua com o seu ilustre nome. Quanto a mim, somente o Largo é que devia ostentar o seu nome. Existiram pessoas que desde o século XII fizeram por Melgaço tudo o que estava ao seu alcance, por exemplo José Cândido Gomes de Abreu (a lembrá-lo tem apenas uma pequeníssima rua), e jazem no esquecimento. // O seu dinamismo deve ter surpreendido todos os melgacenses da altura, pois estavam habituados ao marasmo, à doce sonolência, onde tudo se prometia nas campanhas eleitorais, mas logo estas terminadas tudo se esquecia. Ele agiu e obrigou outros a agirem em prol do concelho. O dinheiro era escasso, mas ele recorreu à banca (o primeiro presidente da Câmara em Melgaço a fazê-lo, segundo consta), e a obra surgiu. Era um pragmático, mas se tivesse vivido mais uns anos, talvez entrasse em choque com a política salazarista.”


SOLHEIRO, Manuel José
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Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/CMMLG/GCMLG/MLG18/004918
Título
SOLHEIRO, Manuel José
Dimensão e suporte
1 pág.
Âmbito e conteúdo
SOLHEIRO, Manuel José (*). Filho de Hermenegildo Solheiro, emigrante no Brasil, e de Adelaide Joaquina Alves. N.p. de António Bernardo Solheiro e de Maria Joaquina Ribeiro; n.m. de Domingos José Alves e de Maria Caetana Gaioso, moradores na Vila de Melgaço. Nasceu em Galvão a 12/7/1877 (confrontar a data de nascimento de sua irmã, Ermezenda) e foi batizado a 17 desse mês e ano. Padrinhos: Manuel de Jesus Puga e José Cândido Gomes de Albreu, solteiros, comerciantes. // Depois da instrução primária foi arranjar emprego no Porto na área do comércio. // Embarcou para Pará por volta de 1893; no Brasil trabalhou na firma Solheiro & Mota, passando depois a ser sócio da mesma, agora com a designação de Solheiro & C.ª. // Nos inícios de 1916 as firmas comerciais com sede em Pará, “Solheiro & C.ª” e “Silva & Loureiro”, compostas exclusivamente de melgacenses, adquiriram por compra, do [ou ao] Banco de Crédito Popular, o vapor “São Pedro”, destinado à navegação fluvial das Ilhas, a serviço das suas casas aviadoras e de outras que quisessem utilizar o paquete; a inauguração da nova linha teve lugar a 24/1/1916 à noite. // Casou civilmente, na administração do concelho, a 10/7/1912, com Amália Augusta, filha dos proprietários da “Farmácia Araújo”, Domingos Ferreira de Araujo e Amália Correia dos Santos; casaram na igreja de Prado a 11/7/1912. Padrinhos no civil: Júlia Correia dos Santos e Dr. Vitoriano Figueiredo e Castro (noiva); Leolinda Solheiro e Cícero Cândido Solheiro (noivo). No religioso: Amália Ferreira de Araújo e Domingos Ferreira de Araújo (noiva); Sara Solheiro de Oliveira e Hermenegildo José Solheiro (noivo). // Seguiram ambos para o Brasil, chegando a Pará a 10/10/1912, onde ele era comerciante, com a firma “Solheiro & Companhia”. // No dia 3/12/1914 chegaram a Lisboa vindos do Brasil. // A 28/1/1915 a sua esposa deu à luz um nado-morto, o qual foi sepultado no cemitério da Vila; morava no lugar da Serra, Prado. // Em 1916 regressa a Melgaço. // Embarca novamente para Pará a 20/1/1917, chegando ao destino a 11/2/1917. // Ele faleceu em Pará, Brasil, em Fevereiro de 1926. // A sua viúva finou-se em São Paio dos Arcos de Valdevez a 12/7/1969. // Pai de Luís Manuel e de Vasco. // Nota: fora ele quem mandara construir a casa e plantar a vinha junto ao posto da Guarda-Fiscal de Mourentão. /// (*) O Dr. Augusto César Esteves chama-lhe José Manuel e diz que nasceu a 30/5/1877; a sua irmã Ermezenda teria nascido, segundo ele, a 11/6/1877. Seria, portanto, gémeo de Ermezenda, mas com uma diferença de dez dias!
Idioma e escrita
port.
Unidades de descrição relacionadas
(Correio de Melgaço n.º 188, de 27/2/1916), (Correio de Melgaço n.º 6), (Correio de Melgaço n.º 19, de 13/10/1912), (Correio de Melgaço n.º 128, de 8/12/1914), (Correio de Melgaço n.º 135, de 2/2/1915), (Correio de Melgaço n.º 194, de 9/4/1916), (Correio de Melgaço n.º 237, de 18/2/1917), (“O Meu Livro das Gerações Melgacenses”, II volume, p.p. 205 e 206)

Ver também:

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