PARTE 7
A ida de Sérgio para Mocajuba e o laço comercial entre Sérgio Rascón Martínez e Francisco Seguin Dias.
Francisco Seguin Dias
O espanhol Francisco Seguin imigrou da Espanha para o Brasil, junto com seu pai, José Joaquim Dias, e de seu irmão que morava em São Paulo. Francisco e seu pai vieram morar para Belém. José Joaquim Dias preferiu voltar para a Espanha, e seu filho foi deixá-lo no país natal, onde construiu uma pequena casa para o pai morar, e voltou ao Brasil.
Eles vieram para o Brasil depois do dia 8 de maio de 1900, pelo Porto de Vigo, no lesta da Espanha, acima de Portugal.
Os imigrantes não tinham documentos pessoais como Registro Geral (RG, Carteira de Identidade), Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), Carteira de Trabalho, e outros documentos, logo as pessoas não tinham um registro oficial documental pessoal, e citavam seus nomes incompletos, geralmente usando somente o sobrenome do pai. Eis porque o José Joaquim Dias e seu filho Francisco Seguin Dias não se assinaram “Dias” no passaporte e na passagem. O José Rascón Temprano, pai do Sérgio Rascón Martínez, também se identificava e se assinava somente como José Rascón.
A Sofia de Freitas Nogueira estava certa em dizer que a Família Rascón Martínez veio primeiro para o Brasil, antes da Família Seguin. Francisco Seguin Dias veio depois, pobre e sem nada, “com uma mão na frente e outra atrás” – como dizia a Sofia.
Francisco Seguin Dias trabalhava como regatão para o Sr. Mário Bentes, o empresário comerciante de um armazém. O comerciante Mário Bentes era espanhol que guiava Francisco Seguin Dias em Belém. Francisco Seguin Dias comprou um barco e colocou o nome do barco de Mário Bentes em homenagem ao empresário. Era um barco para linha de viagem e frete. Como regatão, Seguin viajava para a região do Rio Tocantins, no Baixo Tocantins, Pará, onde a exploração de sementes de cacau e borracha de seringueiras era boa mercadoria promissora na época.
Antes de Sérgio conhecer o Francisco Seguin Dias, este já era também regatão e viajava para o Rio Tocantins, no Pará. (“O rio Tocantins é um curso de água que nasce na serra Dourada, no estado de Goiás, passando logo após pelos estados de Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no golfão Marajoara (ou baía do Marajó), logo após o furo de Santa Maria (ou rio Pará)” - Fonte: Wikipédia). Francisco Seguin Dias viajava para a região do Baixo Tocantins, no Pará, onde o Rio Tocantins banha a cidade de Cametá, Mocajuba, Baião e Tucuruí.
O comércio era a maior fonte de lucro financeiro no Rio Tocantins. Segundo Nereu, Francisco Seguin Dias e Sérgio Rascón Martínez viajavam como regatão para o Rio Tocantins, e chegaram até a região do Tauaré em Mocajuba, em barcos diferentes, ambos se conheceram e tornaram-se amigos e parceiros comerciais.
Sérgio diz no seu curto manuscrito: “Em 1905 vim para o (rio) Tocantins”, isto indica que ele estava com 18 anos de idade, quando já trabalhava como “regatão”.
Quando ele diz: “Em 1905 vim para o (rio) Tocantins”, não significa o estado do Tocantins, no Brasil, que não existia naquela época, criado somente em 1988, mas se refere ao Rio Tocantins, na região do Baixo Tocantins, o rio que banha Cametá, Mocajuba, Baião e Tucuruí. Por muito anos, o Rio Tocantins foi chamado apenas de “Tocantins”.
Sérgio comprou uma casa comercial e residencial, de dois andares, em Mocajuba, e comprou seu primeiro barco veleiro que fazia linha entre Belém e Mocajuba. O barco servia o comercio “regatão” e também transportava borracha, semente de cacau, outros produtos da terra e mercadorias entre as duas cidades.
Não se sabe o exato ano em que Francisco Seguin Dias se instalou com moradia fixa em Mocajuba. Entretanto, nunca teve casa na cidade, sua residência oficial e comércio estavam no Sítio Petrópolis, no Rio Tauaré, no lado da terra firme, na frente da ponta inicial da Ilha do Rufino. Seguin comprou aquele terreno, e em homenagem à cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro, colocou o nome do sítio de “Petrópolis”. Se o Sítio Petrópolis foi a residência de Seguin, desde sua instalação em Mocajuba, isto poderá significar que comprou o dito sítio antes da instalação de Sérgio em Mocajuba ou no mesmo tempo em que Sérgio se instalou com moradia e comercio em Mocajuba. Sérgio só foi para Mocajuba instalar comércio ali, não havendo outra razão para Sérgio escolher Mocajuba para morar. Se não fosse o comércio, ele permaneceria morando em Belém.
Resumo do Curriculum comercial de Sérgio Rascón Martinez.
- Sérgio Rascón Martínez trabalhava como regatão comercial, e como regatão foi para Mocajuba vender mercadorias, em 1905. Em Mocajuba conheceu o Sr. Francisco Seguin Dias, que também era regatão, trabalhando para o Sr. Mário Bentes. Os dois se conheceram em Mocajuba e tornaram-se amigos pessoais e comerciais.
- Sérgio fundou seu comércio em Mocajuba. “Em 1915, me estabeleci com comércio em Mocajuba”. O comércio armazém funcionava na sua própria residência, a Casa Itamaraty. Possuía barco, fábrica de fazer sabão de cacau e fábrica de fazer vinagre.
- Francisco Seguin Dias usou e manipulou a amizade e a confiança de Sérgio para ser seu sócio, num grupo de empresários comerciais, fundando a empresa “Seguin & Rascon”, cujo Sérgio era o sócio presidente, a sede empresarial funcionou na Casa Itamaraty. A firma, fundada em 05/021917, era um grupo de empresários, não havia franquia nem filial, era uma sociedade comercial de sócios empresariais. Seguin convenceu Sérgio, por meio da amizade, para a fundação da dita empresa. Sergio achou que era bom e promissor, aderiu ao projeto empresarial, mas o resultado final foi a sua ruína.
- Todos os antigos homens, empresários e comerciantes avulsos em Mocajuba, inclusive Sérgio Rascón Martínez e Francisco Seguin Dias não tinham o Registro Geral (RG, Carteira de Identidade, criada somente em 1907 ou 1939?) e o Cadastro de Pessoa Física (CPF, criado em 1964), tais documentos nunca aparecem em nenhum tipo de documentos e escrituras de cartório. Não existia a expressão Contrato Social para fundação de empresa. Abrir e extinguir uma empresa era demais fácil, bastava ir ao cartório e declarar uma escritura. Este foi o principal motivo para o Francisco Seguin Dias forçar a extinção da firma "Seguin & Rascón" e das outras sociedades para fundar uma nova empresa com outros sócios. As empresas não tinham a CNPJ: "No Brasil, o Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica (acrônimo: CNPJ) é um número único que identifica uma pessoa jurídica
e outros tipos de arranjo jurídico sem personalidade jurídica (como
condomínios, órgãos públicos, fundos) junto à Receita Federal brasileira (órgão
do Ministério da Economia). O CNPJ compreende as informações cadastrais das
entidades de interesse das administrações tributárias da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e é necessário para processar (Art. 15, da
Lei 11.419/2006). O CNPJ foi criado no dia 1º de julho de 1998, por intermédio
da Instrução Normativa SRF nº 27/1998, como uma evolução do antigo Cadastro
Geral de Contribuintes - CGC (Leis 4.503/64 e 5.614/70) e por vezes também é
grafado como CNPJ-ME". Fonte: Wikipédia.
- Samuel Prudêncio de Souza Júnior, pai de Alcina de Clairefont Souza Seguin Dias, esposa de Seguin. Samuel Prudêncio de Souza Júnior, natural de Cametá, tinha um cunhado que lhe deu uma sociedade em firma, instaurada em Mocajuba. Samuel ergueu seu comércio como filial, no lugar Tauarezinho, na casa que o português José Fernandes Oliveira comprou para estabelecer seu comércio, na ilha diante dos Sítios Belo Horizonte e Bom Futuro, no outro lado do rio. Foi onde Nereu morou com a família depois do casamento com sua esposa Maria Marta. Samuel Prudêncio de Souza Júnior gerou a filha Alcina de Clairefont Souza Seguin Dias. Por causa do novo projeto comercial do dito cunhado, Seguin pediu para extinguir a empresa “Seguin & Rascon” em 1921, para permanecer somente com uma outra empresa fundada por ele, com outros sócios, a empresa Grandes Armazéns Petrópolis com sede no Sítio Petrópolis, e exigiu de Sérgio duas coisas: 1- uma indenização valiosa, avaliada na metade do custo da mercadoria, 2 e uma confissão de dívida. A “Confissão de dívida” iniciou a decadência comercial e financeira de Sérgio.
- Sérgio voltou a ser comerciante sozinho, sem empresa, ainda em 1921, houve o incêndio criminoso no seu comércio findo à ruína total.
- Sérgio voltou a ser regatão até o seu barco apodrecer, não podendo seguir viagem comercial, quando ele já estava com lepra.
- Sérgio seguiu a vida vendando sementes de cacau, borracha de seringueiras, ucuúba (virola surinamensis), e outros frutos da terra.
A escritura do Sítio Olaria, em Mocajuba, em 20 de novembro de 1914
Temos uma escritura original, escrita à mão, de 20 de novembro de 1914, sobre a compra do Sítio Olaria, na Ilha do Rufino, município de Mocajuba, comprado por Francisco Seguin Dias. A referida escritura original foi achada entre as variedades dos documentos de Sérgio Rascón Martínez, podendo indicar que se trata do mesmo terreno comprado por ele na Ilha do Rufino, o seu Sítio Olaria. O dito terreno do Sítio Olaria foi comprado por Sérgio no dia 24 de julho de 1931, conforme a escritura de compra.
“Declaramos nos abaixo assinados, que somos senhores e possuidores de um terreno com 200 (duzentos) pés de cacaueiros, 17 (dezessete) seringueiras e mais árvores de utilidades, sitos na Ilha Rufino deste município, na margem esquerda (- digo direita-) do (rio) Tocantins, limitando-se pelo lado de baixo com o comprador, pelo centro com Leopoldo Pereira da Costa, lado decima com um Igarapezinho (o Igarapé Olaria), frente ao (rio) Tauarezinho, cujos cacaueiros, seringueiras e mais plantações. De nossa livre e espontânea vontade, fazemos venda irrevogável, e sem constrangimento algum, ao Sr. Francisco Seguin Dias, pelo preço e garantia certa de R$ 120,00 (cento e vinte mil reis), quantia essa recebida em moeda corrente, ao passarmos esta escritura, transferindo por essa forma na pessoa do comprador todo o direito, jus e domínio, que tínhamos nos ditos bens vendidos que por lei nos competia, prometendo passar-lhe escritura pública, quanto nos for exigido, não podendo nossos herdeiros em tempo algum reclamar sob esta venda, por ser firme e legal, e por tudo ser verdade, assinamos e presente escritura, em presença das testemunhas, também abaixo assinadas.
Tauaré, 20 de novembro de 1914
Luiz Rodrigues Pereira.
Arrogo de minha mãe Anna Pacheco Pereira
Domingos Pereira de Andrade.
Testemunhas: José Mathias de Vilhena.
Alípio Lima de Medeiros”.
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