PARTE 11
1919
Uma Escritura
de Custódia de 1919
A partir de 1919, algumas escrituras foram feitas por
Custódia de Freitas Nogueira e por Sérgio Rascón Martínez, reconhecendo seus
filhos como legítimos de Sérgio, dando a ele a custódia e os direitos legais
sobre os filhos.
Uma escritura manuscrita de 1919 atribuída à Custódia
de Freitas Nogueira, sobre sua filha Sofia:
“Declaração
Pela
presente a meu rogo feita e assinada, declarou, Custódia de Freitas Nogueira,
que sou mulher solteira, livre e desimpedida; que tenho estado nesta cidade de
Mocajuba, morando na casa comercial dos Senhores “Seguin & Rascon” como
empregada, da qual é sócio gerente o Sr. Sérgio Rascón Martinez, com quem tive
uma filha, nascida em trinta de setembro de mil novecentos e dezoito,
achando-se registrada no Cartório do Registro Civil, com o nome de Sophia de
Freitas Nogueira; eu não tendo os meios precisos para criar e educar esta
menina, comprometo-me depois dela deixar o leite e, que já possa comer,
entregá-la ao seu dito pai, Sr. Sérgio Rascón Martinez, para criá-la e educá-la
como sua própria filha que é, desistindo de eu de todos os direitos que nela
tenho, sem poder de futuro reclamá-la, pois tal é a confiança que tenho no Sr.
Sérgio.
Em firmeza
mandei passar a presente que, como não sei ler nem escrever, pedi ao Sr.
Capitão Manoel Pereira Tavares que a meu rogo assine com as testemunhas Srs.
Tenente Coronel Alexandre de Oliveira Castro e Tenente José Teixeira de Souza
Barros, em cuja presença me foi lida e achei conforme o meu desejo e vontade.
Mocajuba, 10
de fevereiro de 1919
A rogo de
Custódia de Freitas Nogueira
Manoel
Pereira Tavares
Alexandre de
Oliveira Castro
José
Teixeira de Souza Barros
Reconheço
verdadeiros as assinaturas reto de Manoel Pereira Tavares, Alexandre de
Oliveira Castro e José Teixeira de Souza Barros, e dou fé.
Mocajuba, 11
de fevereiro de 1919
Em testemunho
A.P.I. (Arthur Pedro da Igreja) da verdade
O tabelião
Interino
Arthur Pedro
da Igreja
D. 1$800
Apresentado
hoje pelo Sr. Sérgio Rascón Martinez
Apresentando
sob o Nº 75 de ontem do livro de averbação Nº 1, às folhas 25 verso e 26.
Oficial do
Registro Especial
Arthur Pedro
da Igreja”.
Sérgio Rascón Martínez não acertou no amor quando
tomou Custódia por esposa. Custódia, órfão de pai e mãe, morava com os
padrinhos aonde não estudou, era analfabeta, com pouca cultura, rude, “durona”,
prepotente, arrogante, ríspida, impaciente, narcisista, maliciosa, ameaçadora e
desafiadora. Na casa dos padrinhos vivia “escravizada” ao trabalho doméstico e
ao trabalho de cultivo de cacau e borracha de seringa, e andava descalça na
lama. Contudo, era uma jovem bonita, e sua beleza encontrou o Sérgio, que pediu
ao padrinho da jovem para Custódia ser sua empregada em sua casa em Mocajuba. O
pedido foi cedido, e Custódia partiu com Sergio no barco para Mocajuba, levando
sua filha de seis anos de Idade, a Alta, gerada em incesto com seu primo Abílio
num cacaual.
Custódia dizia que viveu apenas um dia como empregada
na casa de Sérgio em Mocajuba, no dia seguinte já era sua esposa, porque ele a
tomou por esposa. Na verdade, essa era a verdadeira intenção de Sérgio.
Entretanto, Custódia nunca o amou e nunca se sentiu e se assumiu como sua
esposa, ela sempre se considerou empregada na casa de Sérgio. Sérgio era
amoroso, assumindo a menina Alta, filha de Custódia como filha. Ele tratava
muito bem a Custódia e a menina, e por tratar tão bem, Custódia se cedia a ele,
e assim geraram quatro filhos.
Custódia tinha uma aversão e xenofobia à Sérgio. Usou
a alienação parental nos filhos contra o pai. Ela
passava os filhos uma imagem muito negativa de Sérgio. Falava mal dele aos seus
filhos, e tentava afastá-los de tudo o que ele gostava, inclusive da comida
vegetariana. Dizia que a pessoa estrangeira não era boa e era desconfiada das
pessoas da terra. Ela buscava mostrar aos filhos todos os defeitos de Sérgio,
como uma pessoa que não prestava. Ou seja, ela sempre trabalhava os filhos
contra o pai, manifestando uma proteção aos filhos contra Sérgio. Ela era
narcisista, manipulava e dominava os filhos. Sérgio era a sua vítima.
Quando se irritava com Sérgio, diz que ser sua
empregada e não sua esposa. Dizia que ele foi busca-la para ser sua empregada e
não sua esposa, e estava na sua casa como empregada. E também sempre dizia que
qualquer dia ia embora de sua casa. Ela jamais queria se casar com ele. Ela
dizia que nunca se casaria com ele, eis porque nunca se casaram. Uma vez ela
disse que ia embora de sua casa e levaria sua filha Sofia com ele para bem
longe de Sérgio. Este, por sai vez, disse podia ir, mas não levaria a sua
filha. Orgulhosa, não se rebaixando para Sérgio, disse que ele podia ficar com
sua filha, mas ela ia embora. E para desafiar Sérgio, e dizer de uma vez por
toda que não era sua esposa, mas empregada em sua casa, foi ao cartório fazer a
escritura e a entregou a Sérgio.
Quando Sérgio adoeceu de lepra, ela colocou os filhos
contra o pai, colocando medo neles contra o pai e contra a doença, usando a
condição da doença a convencê-los para ir embora com ela, deixando o Sérgio só
na casa. Ela tinha grande poder, influência e domínio sobre os filhos, e usava
de violência física em caso de desobediência ou discordância de sua ordem e
vontade. Ninguém podia discordar dela. Foi assim que ela fugiu com as crianças
da casa de Sérgio, quando este estava numa viagem de negócio comercial em
Belém.
Quando os filhos estavam sob seu domínio longe do
Sérgio, não podia visitar o pai Sérgio. Eis porque seu filho Nereu vou visitar
o pai sem nada comunicar a ela, e nunca mais voltou a morar com ela. Tereza
sempre quis ver o pai Sérgio, mas sob o domínio da mãe era impossível. Ele só
pôde visitar o pai depois de casada, quando saiu da casa da mãe. Então Tereza
pediu ao esposo para leva-la até seu pai Sérgio. Ela queria revê-lo, e assim
foi feito.
Eu precisei escrever tudo isso, para fazer o leitor
entender a motivação de Sérgio ir ao cartório, diversas vezes, reconhecer os
filhos, sob as ameaças desafiadora de Custódia.
Nove anos depois de Custódia abandonar Sérgio em
Mocajuba, seu casou com Elpídio em Igarapé Miri, e geraram filho. Para os
filhos que Custódia gerou com Elpídio, repassou a mesma aversão e xenofobia
contra a pessoa de Sérgio, agora com um acrescento: ela precisa justificar sua
separação de Sergio e sua nova união conjugal com Elpídio. Então usava de toda
a negatividade contra Sérgio para poder justificar sua separação com Sérgio e
sua união com Elpídio, alegando que Sérgio não prestava e que a pessoa
estrangeira não era boa. Tudo o que ela se lembrava de fatos na vida do Sérgio,
repassava com negatividade a todos os filhos.
Escritura de
requerimento eleitoral para Sérgio
Escrituras manuscritas e seladas com selo oficial
sobre Sérgio:
“Atestamos nós
abaixo assinados, que o senhor SÉRGIO RASCON MARTINEZ, e residente neste
município, a mais de dois meses. E por ser verdade passamos o presente
documento.
Mocajuba, 20
de setembro de 1919
Francisco
Seguin Dias
Benedito
Sabbá.
Ilmº
(ilustríssimo) Sr. Juiz Substituto
Como
requerer – Mocajuba, 25 de setembro de 1919 – Arthur Pedro da Igreja.
P. (pede)
deferimento.
Mocajuba, 25
de setembro de 1919
Sérgio
Rascón Martinez
Arthur Pedro
da Igreja, oficial do Registro Civil, Tabelião de Notas, Escrivão do Juri e da
demais Comarca do Segundo Distrito Judiciário “Mocajuba” da Comarca de Cametá,
Estado Pará. Certifico em obediência ao despacho da petição supra, que revendo
o livro de atas de revisão de Jurados deste distrito, existe em meu poder e
cartório, neste encontrei o nome do requerente Sérgio Rascón Martinez incluindo
sobre o número duzentos na revisão feita em quinze de setembro do ano corrente,
constando também o seu nome, e outras revisões anteriores. O referido é verdade
e o dito livro me reporto e dou fé.
Mocajuba, 25
de setembro de 1919
O Escrivão
do Juri
Arthur Pedro
da Igreja”.
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