PARTE 19
1927?
A lepra de Sérgio e a separação do casal Sérgio e Custódia
Se Custódia estava sempre a dizer que viveu “doze anos” como esposa de Sérgio na Casa Itamaraty, em Mocajuba, ... e, se se uniram em união estável em 1918, logo em 1930 marca doze anos. Se o filho caçula do casal estava com dois anos quando houve a separação conjugal do casal, e morreu com dois anos, indica então que nasceu em 1928, a dois anos atrás.
Foram ditas muitas coisas sobre Sérgio, e há coisas sem consenso, confusas e outras não têm acertos com datas exatas. Entre tais coisas, existe uma informação sobre as sequelas das queimaduras do incêndio nas mãos de Sérgio. As queimaduras nas mãos e nos braços dos três funcionários foram curadas no tratamento, mas as queimaduras de Sérgio não foram curadas. Sérgio foi várias vezes a Belém em busca da cura, e por fim, foi descoberto que estava com lepra nas mãos. Foi dito que o contágio foi adquirido nas feridas das queimaduras.
Segundo o que pessoas maliciosas informavam à Sofia em Belém, que deve ser boatos, o Francisco Seguin Dias era esperto, interesseiro, astucioso, mal caráter, paranoico e desconfiante, não confiava em ninguém, na verdade fazia trama oculta. Na verdade, ele não era amigo de ninguém, nem mesmo de Sérgio. Como um bom maçom, ele trabalha planos ocultos para ganhar proveito. Segundo o que pessoas maliciosas informavam à Sofia em Belém, em plano oculto, Seguin agiu a fim de Sérgio ser levado ao Leprosário do Prata, onde ficaria ali preso para sempre, mas diante de Sérgio, ele tentava convencê-lo de que estava agindo com todo esforço para que ele não fosse levado ao leprosário, e ainda dizia que Sérgio não reconhecia sua boa intenção, que era só protege-lo. Foi ele que convencia homens para convencer Sérgio, e forçá-lo, a vender a Casa Itamaraty, e seu comércio, a fim de pagar a dívida comercial provinda da extinta empresa “Seguin & Rascon”. Segundo a essas informações maliciosas, foi ele que enviou o homem para comprar a “Casa Itamaraty” aconselho que Sérgio não podia saber disso. Ele forjava situações para tirar proveito. Seguin convencia e enviava homens a ir a Sérgio, a fim de convencê-lo a vender seus bens, para Sérgio pagar a dívida a ele. Seguin mandava os homens oferecer dinheiro a Sérgio para comprar seus bens. Os que diziam conhecer a ação de Seguin, contaram para a filha de Sérgio, Sofia, quando ela já morava em Belém. No Porto de Belém, Sofia ouvia estas coisas horríveis, e ainda ouvia dos homens, que Seguin destruiu a vida comercial e financeira de Sérgio e ficou com seus bens, por esperteza e por concorrência comercial. Além disso, Sofia ouviu que, Seguin forçava os pobres do Tauaré a comparem “fiado” suas mercadorias no Sítio Petrópolis, fazia os pobres se endividarem com ele, e depois cobrava a dívida. Os pobres, não tendo condição de pagar a dívida, eram forçados a assinar um documento repassando suas terras a Seguin, outros foram mortos no intuito de Seguin ficar com suas terras. Assim Seguin, aumentava suas terras, fazendo de muitos pedaços de terra uma só propriedade, com novas escrituras de terra. Havia escrituras com inverdades contidas nelas. Ele também comprou várias propriedades. Todas essas terríveis informações não são conhecidas em Mocajuba. Somente Sofia alimentava tais informação não virtuosas.
A lepra era considerada uma doença muito perigosa, nojenta e preconceituosa. Os leprosos eram rejeitados pela sociedade. Sérgio conhecia muito bem a realidade da “prisão” no Leprosário do Prata, de onde ninguém saía. Todos aqueles que eram denunciados ao governo por estarem com letra eram levados à força, pelo Estado, para o leprosário, de onde nunca mais saiam a fim de não contagiar a massa social. Sérgio conhecia o trabalho dos frades capuchinhos na Colônia do Prata e na Colônia Ferreira Pena, de onde veio para Belém. Os capuchinhos trabalhavam com os leprosos. Frei Daniel de Samarate pegou lepra e morreu leproso. O leprosário era visto como um lugar de “terror”. Por causa das astutas ameaças de Seguin, Sérgio vendeu a casa Itamaraty, onde está a atual Casa São Geraldo, e seus outros patrimônios, a fim de fazer os pagamentos parcelados a Seguin.
Ao lado direito da Casa Itamaraty estava a antiga casa no estilo colonial, propriedade da Sra. Ana Gonzaga da Igreja Braga, ou só “Ana Braga” como era conhecida. Ana Braga era mãe do ex-Padre Antônio Braga, que embora sacerdote, foi nomeado duas vezes, de forma provisória, como prefeito de Mocajuba. Ana Braga era amiga de Custódia de Freitas Nogueira, esposa de Sérgio. Em 1926, não se sabe o dia exato, dizem que o sino tilintou durante 12:00h como sinal de tristeza, por motivo do casamento do Padre Antônio Braga com a jovem Wanda Moller. A renúncia ao sacerdócio para se casar, que foi um escândalo social naquela época. Foi a Ana Braga que fez doação da casa para a Paróquia de Mocajuba. O casarão colonial se tornou a primeira escola na cidade, a casa que acolheu as primeiras religiosas freiras vindas em missão a Mocajuba, a escola de música e a oficina metalúrgica do Padre Pedro Nota que funcionou durante anos numa casa de madeira no quintal atrás do casarão colonial.
No primeiro plano da foto está a casa colonial, com o trator na frente, que pertenceu à Ana Braga. Depois da doação da casa feita à paróquia, este tornou-se a primeira casa Paroquial. A casa foi destruída sob a ordem de um pároco na década de 90 do século XX para a construção de loja comercial, alugada pela paróquia em prol de benefício financeiro. A segunda casa, no segundo plano, a casa com duas janelas e uma porta, era a antiga casa do casal Miguelzinho e Dona Zezé (Generosa), que depois foi vendida pela família, também demolida para ereção de um prédio comercial moderno. A terceira casa com uma só janela, era a residência do ex-prefeito João Costa. A quarta casa, com dois andares, depois da árvore, é a Casa Paroquial (2023). Todas as casas situadas na Travessa Alexandre de Castro, com a frente para a Praça Nossa Senhora da Conceição.
Depois que a notícia da lepra em Sérgio se espalhou na cidade, Ana Braga aconselhava sua amiga Custódia de Freitas Nogueira, a se separar de Sérgio, e voltar para sua família original, levando as crianças para longe de Sérgio. Ana Braga alegava que Custódia e as crianças podiam se contaminar pela lepra. Ela dizia que, se Custódia não voltasse para sua família original, ela e as crianças pagariam a lepra de Sérgio.
Convencida pelo aconselhamento de Ana Braga, Custódia pediu a separação de Sérgio, dizendo a razão da separação. Custódia queria a separação imediata e levar os filhos consigo para bem longe de Sérgio.
Sérgio era uma pessoa elegante, clássica, educada, culta e formal, amava as leituras e comprava muitos livros. Foi ele que repassou à sua filha Sofia o ensino da poesia, da leitura, da canção e do latim. Sérgio era um bom pai, amável. Ele não queria a separação, não queria se desfazer da família e não queria se separar dos filhos.
Custódia, por sua vez, era uma mulher determinada, “geniosa”, arrogante, intemperante, impaciente, ríspida, “explosiva”, colérica, violenta e de pouca cultura. Não media palavras para ofender. Todo o gênio ruim nos filhos e na família vem da linhagem de Custódia. É uma maldição hereditária na família.
Ela insistiu na separação, mas Sérgio não queria. O casal passou a brigar muito por causa disso. Custódia já não respeitava Sérgio e partia com palavras ofensivas e vulgares. Por fim, Custódia se arrumou com as bagagens dela e dos filhos e partir para ir embora, a todo custo na presença de Sérgio. Houve uma grande discussão entre o casal. Naquele dia, Sérgio tomou o revolver e deu um tiro na direção dela a fim de assustá-la. Então ela desistiu de ir embora.
Sérgio precisou ir a Belém comprar novo estoque de mercadorias. Ana Braga aproveitou a oportunidade da ausência de Sérgio em Mocajuba, e pediu para Custódia fugir com os filhos antes que ele voltasse. Outra vez Custódia se arrumou, e desta vez, fugiu levando os filhos. Para escapar de Sérgio, ela não voltou para sua terra original no interior do município de Igarapé-Miri, no Rio Anapú, naquele município, muito a dentro daquele rio. Foi se refugiar na casa do seu irmão no Rio Anapú, muito a dentro do rio, longe da cidade Igarapé Miri, onde Sérgio não a pudesse encontrá-la.
Quando Sérgio chegou de Belém a Mocajuba, perguntou pela esposa. Os funcionários disseram toda a verdade sobre a fuga de Custódia.
Sérgio não se conformou e foi atrás de Custódia, em busca dos filhos de volta para morar com ele, mas Custódia não permitiu a partida dos filhos com ele. Na cidade de Igarapé-Miri, Sérgio pediu informação, e foi pedindo informações aos ribeirinhos até chegar na casa onde Custódia estava escondida com os filhos. Ele contava a todos o ocorrido familiar.
Pela segunda vez, Sérgio voltou indo outra vez buscar os filhos. Custódia discutiu com Sérgio e briga verbal terrível. Custódia tomou um pedaço de madeira para violentar Sérgio. No porto da casa de seu irmão, ela enfrentou Sérgio com o pedaço de pau na mão. As crianças foram almoçar com a mãe. Durante a refeição, Custódia disse aos filhos que o pai deles estava lá para buscá-los, e perguntou aos filhos quem deles queria partir com Sérgio para Mocajuba e morar com eles... Sófia se atreveu, e disse querer ir embora com o pai dela, pois o pai dela era “rico” e ela não estava acostumada comer todo dia “comida de pobre”, como “açaí, camarão e peixe”, querendo voltar com o pai Sérgio por causa da condição financeira dele. Custódia era orgulhosa, “durona”, rancorosa e ressentida, e se ofendeu com as palavras de Sofia, que não se rebaixou para ela, e respondeu à filha: “Vai, pode ir com ele, é isso que tu queres, vai com ele, por mim pode ir”. Os outros filhos ficaram em silêncio porque tinha medo da violência da mãe. Na verdade, desde a convivência com Sérgio, as crianças permaneciam mais com a mãe Custódia, porque Sérgio dedicava sua a vida ao comércio. E embora geniosa, Custódia era mãe protetora e cuidava bem dos filhos. As outras crianças silenciaram por não ter poder de decisão e maturidade suficiente para decidir tal coisa.
Sofia, então, partiu com o pai no barco de volta para Mocajuba. Ela tinha 9 anos de idade quando isto ocorreu. Então isto foi em 1927? Pois Sofia nasceu em 1918.
Neste ínterim, ocorre a morte de Hélio Sérgio Rascón de Freitas, chamado de Serginho. Serginho foi acometido de meningite e morreu em Cametá aos dois anos de idade. Levaram a criança para Cametá, não veio a falecer. Em Mocajuba, depois da separação de Sérgio e Custódia, quando Sérgio registra algumas vezes os filhos Sofia, Nereu e Tereza com os seus legítimos filhos, como escritura de reconhecimento de paternidade, ele não menciona o Serginho nas escrituras porque já estava morto. Todas as escrituras originais do reconhecimento estão comigo.
Elpídio Cardoso Wanzeller, o segundo esposo de Custódia. Custódia permaneceu cerca de 7 ou 8 anos solteira após a sua separação com Sérgio. Custódia conheceu Elpídio em Igarapé-Miri e se casou com ele no civil e no religioso. Desta vez se casou. Elpídio e Custódio geraram a primeira filha, a Leuci.
Sérgio ainda não se conformou com a perda dos filhos, ele amava os filhos e os queria com ele. Amava de modo especial a Tereza. Anos depois, voltou outra vez à Igarapé-Miri, agora para buscar sua filha Tereza. Foi a terceira vez que viajou de Mocajuba ao rio Anapú, Em Igarapé-Miri, a fim de buscar os filhos. Na terceira, vez, Custódia já tinha outro marido e a primeira filha com o novo marido, a filha Leuci. Foi desta vez que ele raptou a Tereza no barco levando-a para Mocajuba, com a ajuda do próprio pai de Elpídio, o Sr. Antônio Cardoso. E com a ajuda de Francisco Seguin Dias, Custódia e Elpídio raptaram de volta Tereza. Tereza foi raptada duas vezes, uma pelo pai e outra pela mãe. Mas, esta é uma história muito longa que dá para fazer um filme.
Custódia chorou e sofreu a morte de seus filhos José Cardoso de Freitas e, Manoel Cardoso Freitas, falecidos na infância. Ver a parte da genealogia dos filhos gerados por Custódia e Elpídio.
A mudança de Família de Custódia e Elpídio, de Igarapé Miri, para Bagre e Oeiras do Pará.
De Igarapé Miri, o casal Elpídio e Custódia com os filhos foram morar em Jacundá (não confundir com o município de Jacundá), no rio central, município de Bagre. Elpídio foi induzido pelo seu irmão a melhorar de vida naquele lugar, mas não deu certo, ouve engano, um fracasso total. A família saiu daquele lugar indo morar na cidade de Oeiras do Pará.
De Oeiras do Pará, Nereu voltou a morar com seu pai Sérgio Rascón Martinez em Mocajuba, quando ele tinha 16 anos de idade, vindo a trabalhar como regatão nos rios amazônicos.
Contrato de arredamento entre Sérgio Rascon Martinez e Raimundo Dias Pimentel
“1º Translado. Livro Nº 11. Folhas 30 a 31
J.S.Cunha
(João Secundino Cunha)
Contrato de arredamento que entre si fazem e assinam Sérgio Rascon Martinez e Raimundo Dias Pimentel, com abaixo se declara:
Saibam quantos este público instrumento de arrendamento virem, que no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Mil Novecentos e Vinte Oito (1928), trigésimo oitavo da República dos Estados Unidos do Brasil, aos doze dias do mês de janeiro (12/01), nesta cidade de Mocajuba, Segundo Distrito Judiciário da Comarca de Cametá, Estado do Pará, em meu cartório à Rua Conselheiro João Alfredo, compareceram presentes de uma parte como outorgante arrendatário o cidadão Sérgio Rascon Martinez, proprietário e residente nesta cidade, e de outra parte como outorgado arrendatante o cidadão Raimundo Dias Pimentel, comerciante e também residente nesta cidade, pessoas conhecidas de mim, Tabelião Público, e das testemunhas adiante nomeadas e no fim assinadas pelas próprias que tudo dou fé, perante as quais pelo outorgante arrendatário, Sérgio Rascon Martinez, me foi dito que sendo senhor e possuidor de um prédio nesta cidade de Mocajuba, situado a esquina da Praça Treze de Maio e Rua Cônego Siqueira Mendes, fazendo frente e rua e praça referida, acha-se justo e contratado, a parte da casa que corresponde ao comércio, com o outorgante arredantante, para arrendá-lo pelo tempo e condições seguintes:
Primeira. O arrendamento será precisamente por dois anos e pela quantia de quarenta e cinco mil réis por mês, durante dois anos do presente contrato.
Segunda. O pagamento pode ser mensal ou em parcelas de acordo com ambos os contratantes.
Terceira. Os estragos feitos na casa causados pelo movimento do comércio, com caixas, barricões (será que ele deveria ter escrito “barracões”?) ou outros objetos, assim com as goteiras causadas pelo mesmo motin, ficam sob as responsabilidades do inquilino arredantante que fica obrigado a fazer ...... (prmpto ?) .... e bastante a tempo para acertar estragos e a deteriorização da casa.
Quarta. O inquilino arredantante antes de fazer qualquer concerto na casa, fica obrigado comunicar primeiramente ao proprietário que os concertos sejam feitos por sua conta ou quer sejam por conta do proprietário, ficando obrigado a zelar pela conservação da casa.
Quinta. O presente contrato será firme e irrevogável, não podendo nenhuma das partes se arrepender, e só ficará sem efeito em caso do proprietário ter necessidade de vender a casa, mas se assim fizer, pelo preço igual ao que for oferecido por fora.
Sexto. Se houver necessidade de morte de qualquer das partes contratantes e partilhas subsequentes será respeitado o presente contrato até o seu término pelos herdeiros de ambos os contratantes.
Sétima. O presente contrato entra em vigor desde primeiro de janeiro do corrente ano até trinta e um (31) de dezembro de mil novecentos e vinte nove (1929).
Oitava. Se ao terminar o prazo do presente contrato e ambos os contratantes quiserem continuar com o arredamento, o presente contrato prevalecerá diante uma declaração, que publicar ou particular, marcando o novo prazo de tempo, e que será reconhecido ou registrada. Então pelo outorgado arredantante me foi dito perante as mesmas testemunhas, que na verdade se acha justo e contratado com o outorgante arredantário o presente arredamento pelo preço e praso acima referido, e por ser verdade assinam perante mim, Segundo Tabelião Público, e as testemunhas Jucendino Mendes Frazão e Antônio Esteves Capela, residentes nesta cidade, meus conhecidos, do que tudo dou fé.
Eu, João Secundino Cunha, 2º Tabelião Público, o escrevi e assino em público e raso. Em testemunho (estava o sinal público) da verdade João Secundino Cunha, 2º Tabelião Público, Sérgio Rascon Martinez, Raymundo Dias Pimentel, Jucendino Mendes Frazão, Antônio Esteves Capela.
Estavam coladas e devidamente e institisadas duas estampilhas federais no valor de dois mil réis. Transladado na data supra. Eu, João Secundino Cunha, 2º Tabelião Público, o escrevi, subscrevo e assino em público e raso.
Em testemunho J.S.C. (João Secundino Cunha) de verdade
João Secundino Cunha
Tabelião Público
D- 18$730.”
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