PARTE 22
Tereza Rascón de Freitas
Tereza Rascón de Freitas |
Quando Sérgio Rascón Martínez foi pela primeira vez buscar os filhos no Rio Anapú, município de Igarapé Miri, apenas Sofia quis vir com ele de volta para Mocajuba, a morar com ele. Na segunda viagem, não conseguiu trazer Tereza e Nereu. Na terceira vez, raptou Tereza. Como foi dito, naquele tempo em ele foi buscar os outros filhos, raptando Tereza, Custódia já tinha outro esposo, caso com ele no civil e religioso, e já havia nascido a filha Leuci do novo casal, que já estava com 2 anos de idade. Sérgio emprestou de Seguin o barco “Mário Bentes”, e partiu para o município de Igarapé Miri, indo direto para a casa do Sr. Antônio Cardoso, pai de Elpídio – o segundo esposo de Custódia, e pediu ao próprio Antônio Cardoso para buscar a Tereza na casa de Elpídio e Custódia, convidando-a para um falso passeio, pois Sérgio queria vê-la, mas não quis que ninguém soubesse de sua presença no lugar. Antônio Cardoso foi buscar a Tereza para o falso passeio e a trouxe para Sérgio vê-a, sem ninguém desconfiar de alguma coisa. Sérgio tomou Tereza e a colocou no porão do barco, e partir rumo a Mocajuba, raptando sua filha Tereza, levando-a para seu sítio em Mocajuba.
No Rio Anapú, município de Igarapé Miri, Custódia não se conformou com o rapto e perda da filha Tereza, pedindo ao esposo Elpídio para levá-la a Mocajuba, onde enfrentaria o ex-esposo Sérgio, tomaria sua filha de volta levando-a consigo.
Sérgio Rascón Martínez precisou viajar para Belém, deixado Tereza sob os cuidados de Francisco Seguin Dias, no Sítio Petrópolis, Rio Tauaré, onde funcionava o comércio e residência do mesmo Seguin. O Sítio Petrópolis situa-se na margem do rio, na parte da terra firma. O terreno tem a parte alta da planície e a parte baixa na beira do rio. Uma ladeira escalonada ligava a parte alta à parte baixa.
Custódia e Elpídio foram de Igarapé Miri para Mocajuba, em canoa com tolda, a remo, remando pelo Rio Anapú, Rio Igarapé Miri e Rio Tocantins. Custódia levava nos braços a criança Leuci, de dois anos de idade, debaixo da tolda. Foi a única vez que Elpídio esteve em Mocajuba. Devido à longa viagem, de quase uma semana remando, a comida se acabou na viagem, e eles só comia farinha de mandioca com água do rio. E assim chegaram ao porto do Sítio Petrópolis com um restante de farinha de mandioca que ainda sobrava na canoa. Custódia indicava o caminho, eles passaram por Mocajuba e subiram o Rio Tauaré rumo à casa de Seguin. Custódia e seu segundo esposo Elpídio se depararam no porto do sítio, o proprietário Francisco Seguin Dias. Custódia e Francisco Seguin dias eram amigos sociais desde o tempo em que Custódia foi esposa de Sérgio Rascón Martínez. Custódia contou ao Francisco Seguin Dias sobre o “sequestro” de Tereza feita por seu pai Sérgio, que a levou escondida e raptada para o Tauaré, sem seu aviso e consentimento. Custódia contou toda a sua verdade sobre o rapto de Tereza. E estava ali para buscá-la de voltar, pois estava muito preocupada com a filha, que podia ser contagiada de lepra, “pegar a lepra do pai”. Custódia convenceu o Francisco Seguin Dias de entregar-lhe a Tereza, e de permitir sua partida com ela, por causa da doença de Sérgio. Ela dizia que Sérgio não tinha condição de criar Tereza e cuida dela como filha, devido à lepra. Custódia foi verdadeira quando disse ao Francisco Seguin Dias sobre o término da comida na viagem, quando passaram a comer farinha de mandioca com água do rio. Disse que estavam sem comida e queria partir de volta com comida para alimentar a Tereza na viagem. Com o pouco dinheiro que levaram na viagem, queria comprar comida.
Depois de ouvir toda a versão de custódia, e convencido por ela, Francisco Seguin Dias mandou um funcionário do comércio chamar Tereza que estava na parte decima do terreno. O rapaz emissário subiu a ladeira e foi avisar Tereza que sua mãe estava lá embaixo, no porto, esperando por ela, e que a veio buscá-la de volta, a morar com ela.
Ouvindo aquilo, Tereza saiu correndo, e quase correndo, descia a elevada ladeira da terra firme, rumo ao porto. Custódia viu a filha descendo às pressas, feliz e sorridente, seu vestido de época balançava ao vento na descida, e Custódia contava que ela descia como uma “borboleta” voando. Tereza se jogou no colo da mãe com um abraço forte. As duas se abraçaram, e Custódia disse que veio lhe buscar de volta.
Custódia comprou alimento com o pouco de dinheiro. E Seguin, por sua vez, preocupado com Tereza na longa viagem deu bastante alimento a eles. Arrumaram os pertences de Tereza para viajar. Partiram do Sítio Petrópolis para o Rio Anapú no município de Igarapé Miri. Assim como Sérgio raptou Tereza de Custódia, assim Custódia raptou Tereza de Sérgio; Tereza duas vezes raptada, uma pelo pai e outra pela mãe. Quando Sérgio chegou de Belém, Seguin contou toda a verdade. Sérgio recebeu a notícia como uma punhalada na alma, uma dor como de luto invadiu sua alma. Seu choro silencioso perdurou por vários dias. Depois disso, Sérgio nunca mais voltou a Igarapé Miri e não mais procurou por Custódia, e esta nunca mais voltou a Mocajuba.
Quando Elpídio, segundo esposo de Custódia, recebeu proposta de trabalho para a cidade de Oiras do Pará, Tereza e Nereu Rascon de Freitas moram morar para Oeiras do Pará junto com a mãe. Tereza tornou-se uma bela donzela e casou em Oeiras do Pará, mas foi comedida por uma doença grave levando-lhe a óbito. Morreu jovem, casada, sem deixar filhos.
O sítio Petrópolis, no Rio Tauaré, município de Mocajuba, a antiga propriedade de Francisco Seguin Dias, no lado da terra firme do rio, onde era o comércio e residência de Seguin. Aos fundos, no alto, ver a ladeira na planície por onde Tereza desceu quase correndo, ao encontro de sua mãe que a esperava no porto a fim de levá-la de volta consigo para Igarapé Miri.
Ver-se no porto o barco ‘Mário Bentes”, emprestado por Sérgio Rascón Martínez para raptar Tereza no Rio Anapú, Igarapé Miri, levando-a para Mocajuba; o mesmo barco que levou Nereu Rascon de Freitas para Mocajuba, e o mesmo barco usado por Nereu para levar de Mocajuba para Belém, as filhas da Alta Amaral Tavares: Iracema, Eunice e Guiomar, quando elas se mudaram para Belém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário