PARTE 5
A Família Rascón Martínez saiu da Colônia Ferreira Pena sem criar raízes no lugar
A Morte trágica de José Rascón Temprano na Colônia Ferreira Pena
Saiba tudo sobre a tragédia de que matou José Rascón Temprano, fazendo sua esposa se decepcionar, vender as terras e ir para São Paulo com toda a família, menos Sérgio Rascón Martínez que ficou no Pará, não querendo ir para São Paulo.
A morte de José Rascón Temprano:
As terras cedidas pelo governo aos colonos espanhóis na Colônia Ferreira Pena, eram com matas selvagens, fechadas, de difícil acesso e perigosas com espinhos, cobras e insetos venenosos. Ora, a terra da Europa, do sul brasileiro, e do sul da América Latina era diferente da terra da Amazônia. As terras europeias eram descampadas e exploradas pelos homens a milhares de anos atrás, enquanto que a terra da Amazônia era de mata homogênea virgem, selvagem, fechada e de difícil acesso, com árvores frondosas. Na Amazônia, era preciso derrubar as árvores frondosas, separar as madeiras, esperar secar os vegetais derrubados e cortados para depois queimá-los, limpar a terra depois da queimada, e preparar a terra para o plantio. Tudo isto levava tempo perdido, num tempo e lugar atrasado, rude, sem recurso, e em região de pobreza. Os homens da Amazônia sabiam derrubar as árvores no sentido correto e da maneira certa: as árvores derrubadas deviam cair para um só lado, ou para uma só direção ou um só lugar, em sequência de derrubada. Os colonos europeus, por sua vez, não acostumados com este estilo de trabalho, derrubavam as árvores de qualquer jeito. Com machados e serras de ferro as árvores derrubadas, caindo para todos os lados, sem rumo e direção, causando perigo aos próprios trabalhadores. Caiam árvores sobre árvores, tornando o trabalho mais difícil e cansativo. Tudo era muito rude e primitivo.
As centenárias árvores de Massaranduba, quando derrubadas tinha tronco com cerca de metros e meio. Era preciso fazer um andaime circulando a árvore para cortar o tronco muito no alto, pois as grandes raízes como gomos na base do tronco levarias mais dias para ser cortado.
No alto do andaime, com machado era feira a “boca” no tronco da árvore, que na verdade é uma cava para a onde a árvore devia cair, se caísse conforme planejado. As vezes o vento ou o peso dos grandes galhos da árvore a fazia cair para um lugar não planejado, a queda podia ser traiçoeira. A cava, que eles chamavam de “boca”, cavada com machado no tronco da árvore, sobre o andaime, quando ficava mais funda, o operário entrava na cava e ficava cavando mais profundamente o tronco. Era mais fácil continuar abrindo a cava dentro da própria cava. Parecia um grande perigo, pois se o vento ou o peso da árvore frondosa inclinasse a árvore, esta poderia cair antes do templo planejado esmagando dentro do tronco o trabalhador. Quando o fundo da cava chegava ao meio do tronco ou próximo ao meio, era preciso mudar de posição e cortar o tronco do outro lado, abrindo uma nova cava, contra a primeira cava. A razão da segunda cava era fazer pesar toda a árvore só para um lado, ao rumo que deveria cair. O tronco ficava bastante fino, e quebrava entre as duas cavas, derrubando a árvore ao chão.
Cerca de cinco anos depois de instalados na Colônia Ferreira Pena, possivelmente no dia 27 de novembro de 1905, aconteceu a fatalidade que levou José Rascón Temprano a óbito. Cinco homens da Família Rascón estavam derrubando árvores. Napoleón Rascón Temprano, irmão de José Rascón Temprano, estava derrubando árvores. Os troncos das árvores caiam cruzados entre si abrindo clarão na mata... Uma frondosa árvore foi derrubada caindo sobre as árvores, abrindo um clarão na mata. José Rascón Temprano achou lindo o clarão, subiu e andou sobre o tronco derrubado, permaneceu de pé sobre o mesmo tronco, próximo ao corte do tronco derrubado, a fim de ver como ficou o resultado do corte. A seguir, uma frondosa árvore chamada MASSARANDUBA, foi derrubada caindo sobre o tronco já derrubado, onde José Rascón Temprano estava distraído, de pé na ponta do tronco, cruzando os dois troncos. O pesado impacto da queda da Massaranduba sobre o tronco já derrubado levantou a ponta cortada para o alto como um balanço, arremessando o José Rascón para os ares, girando seu corpo várias vezes no ar, como piruetas ao ar livre, e o jogando de costa no chão. Os homens correram para acudi-lo, mas já encontraram morto com costelas quebradas. Eles chamavam a árvore de Massaranduba de "Massaradubeira". A base da nuca de José Rascón Temprano, no lado esquerdo da cabeça, um pouco acima do pescoço, bateu na raiz cortada. A causa da morte foi a pancada na cabeça. No lugar da pancada surgiu hematoma grave com sangue coagulado, o lugar da pancada ficou muito roxo ainda depois de morto. Sérgio Rascón Martínez devia ter 18 anos de idade quando seu pai morreu.
Tomasa Martínez Ferrero, esposa de José Rascón Temprano, chorou luto por um ano, vestindo-se de preto. Ela amava o marido, como uma esposa apaixonada, caiu em desgosto, juntos com todos os outros familiares, e quiseram ir embora do Pará, por causa da morte de José Rascón Temprano, e também, porque não eram acostumados no sistema precário de serviço de derrubar árvores para o cultivo da terra, cujo foi o motivo da morte de José Rascón Temprano. Sim, Tomasa Martínez Ferrero decepcionou-se com o Pará, vendeu as terras e foi morar com os filhos em São Paulo, onde trabalharam numa colônia, e faleceu dois anos depois. Foi sepultada em São Paulo. Sérgio não quis ir com a família para São Paulo, permanecendo trabalhando em Belém, onde já tinha seu próprio sustento.
Nautilho visitando o túmulo do seu bisavô José Rascón Temprano, no Cemitério São Pedro, na Comunidade Ferreira Pena, município de Santa Isabel, Pará, Brasil, em 13/10/2023.
Finados de 02/11/2023:
Nautilho, visitando o o túmulo de seu bisavô José Rascón Temprano, no Cemitério São Pedro, na Comunidade Ferreira Pena. Dia de Finados de 02/11/2023. |
Ferreira Pena depois da Família Rascón Martínez.
Quando a Família Rascón Martínez saiu da Colônia Ferreira Pena, ainda não havia ali os frutos dos trabalhos do campo. O desenvolvimento e a produção demoraram por causa mata nativa, demora para preparam e produzir a terra, lugar rude sem nada e sem esperança num futuro próspero, retenção de terras numa só família entre parentes. Surgiram ali três engenhos de açúcar, um homem turco era proprietário de um engenho. Os colonos desenvolveram trabalho de plantação de mandioca, produção de farinha de mandioca, farinha tapioca e goma de tapioca. Arroz, milho, feijão, verduras e frutas eram plantados e colhidos para o consumo e também para vender, mas eles não viviam de disso, o foco da produção estava na produção dos derivados da mandioca. Na esquerda de quem vai de Ferreira pena para a BR 316, no povoado São Luiz, havia uma “Barracão”, onde os colonos arensavam suas mercadorias com destino a Belém e a outros lugares. O proprietário morreu e os colonos passaram a usar outro “Barracão”, agora em Americano, armazenado suas mercadorias a fim de serem levadas de trem à destinação. As mercadorias eram levadas por cavalos.
Vieram os caminhões que transportavam as mercadorias, usando a estrada de chão que depois se tornou a havia uma “Barracão”, BR 316. Os caminhões adentravam as colônias e tudo facilitou. Houve a decadência da Estrada de Ferro de Bragança e o movimento de veículos voltou-se para a BR 316.
Vários colonos foram embora dali, venderam suas terras, surgiu uma fazenda no lugar. Segundo a memória dos mais idosos ainda vivos em Ferreira Pena, acima do Rio Tauá, na direita, antes de dobrar para a estrada do cemitério, havia uma fazenda pertencente ao grupo empresarial Marcos Marcelino e Cia Ltda. (Marcos Marcelino, empresário nascido em Campina Grande na Paraíba em 1942 e radicado no Pará desde 1960. Ao longo de sua trajetória fundou o grupo empresarial Marcos Marcelino, formado por 9 empresas nas áreas de comércio, serviços, indústria, agropecuária e consórcios existentes no Pará, Maranhão, Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro.) Um pedaço de terra daquela fazenda era o terreno da Família Rascón Martínez. A fazenda era conhecida como Fazenda Xingu que pertencia a Luís Soares, quando comprou do grupo Marcos Marcelino. Luís Soares vendeu a Fazenda Xingu para a empresa Sococo. Luís Soares comprou outra fazenda em São Francisco do Pará. “Fundada em 1966, em Maceió (AL), a Sococo é a maior e mais moderna fábrica de derivados de coco do mundo. A Sococo distribui derivados de coco para todo Brasil e para o exterior, pesquisando e produzindo, com tecnologia de ponta, em unidades distribuídas pelos estados do Pará e Alagoas.” Fonte: https://www.infojobs.com.br/sococo
A empresa Sococo comprou parte das terras dos outros descendentes de colonos, e outras pessoas que tinham terras ali. De um lado a outro da Travessa Ferreira Pena, a Sococo foi comprando terras, inclusive as terras ao redor do Cemitério São Pedro, e depois deste, e foi anexando às terras da antiga Fazenda Xingu. A essas terras compradas a Sococo chamou de Fazendas Reunidas da Sococo.
“A empresa Fazendas Reunidas Sococo que tem como razão social Sococo S/A - Agroindustrias Da Amazonia foi fundada em 22/12/2010 e está cadastrada na Solutudo no segmento de Cultivo com o CNPJ 05.832.555/0006-28. No mercado, a empresa está localizada na Estrada Colônia Ferreira Pena Km 04, Nº S/N no bairro Distrito Americano em Santa Isabel do Pará - PA, CEP 68790-000. A empresa Fazendas Reunidas Sococo está cadastrada na Receita Federal sob o CNAE 0133-4/05 com atividade fim de Cultivo De Coco Da Baía.” Fonte:
A sede da empresa Sococo fica em Ananindeua, mas as Fazendas Reunidas da Sococo estão em Ferreira Pena.
A Travessa Ferreira Pena era uma estrada de chão não boa, com buracos, e no inverno atolava na lama, com acúmulo de água em possa. A empresa Sococo mandou concertar a estrada e revesti-la de pissarra, a Terra vermelha, misturada com pedras pequenas. Na região sudeste damos o nome de saibro e no Nordeste eles falam pissarra.
No tempo de Luís Soares, a Fazenda Xingu estragou o Rio Tauá. Veio a Sococo que represou as águas do pequeno rio, com três represas dentro dos terrenos de suas fazendas, a fim de usar as águas para o trabalho da terra e regar os muitos coqueiros nas Fazendas Reunidas. A Sococo matou o rio. A bacia do rio ficou assoreada, rasa, e o canal virou como um esgoto. Ferreira Pena perdeu seu “cartão postal”.
A questão do Cemitério de Ferreira Pena.
No passado, pouco foi escrito sobre o início da Colônia Ferreira Pena. Todas as primeiras fontes são de João Palma de Munis. Muitas informações antigas e as primitivas memórias morreram junto com os bisavôs e bisavós dos remanescentes atuais. Temos agora duas fontes de informações: João Palma de Munis; os trabalhos científicos de alunos e professores de faculdades, mediantes a pesquisas e conclusão científicas dos dados; e a memória popular dos renascentes dos primitivos fundadores da Colônia Ferreira Pena, passada oralmente, e dos outros ouvintes de pessoas passadas, que ouvirem dizer – “minha bisavó dizia que...”, meu avô disse uma vez que...”, “eu ouvia minha avó, bisavó, avô, bisavô dizer assim.... “meu avô, bisavô, avó, bisavó dizia contava que...” Nesse montante de informações, há relatos confusos em informações e datas, que precisaram ser acareados, no intuito de ajustar os fatos e as datas, procurando acertar, se possível, e aproximar os elementos acolhidos para a compilação dessa parte da história, evitando por demais, erros de informações.
A Travessa Ferreira Pena está situada ao lado esquerdo do Presídio de Americano, BR 316 KM 45, município de Santa Isabel, Pará. Da rodovia BR 316, para dentro, rumo à Ferreira Pena, até a estrada do cemitério mede 6 km, em linha reta, e dobrando à esquerda, medindo 300 metros está o “Cemitério São Pedro” de Ferreira Pena, embutido num terreno de cocal das Fazendas Reunidas da empresa Sococo. O cemitério está amoldurado de coqueiros.
Para quem não conhece o cemitério e sua história, ao adentrar nele, se depara, à direita, com um imponente e gigante “túmulo” retangular, sem letreiro e sem nenhuma identificação, apresentando estar a décadas a abandonado. Nada está escrito nele. O “túmulo” chama atenção pelo seu grande tamanho, largura e altura, sobressaindo sobre todos os demais túmulos. Feito todo feito de pedra, tem lápide como uma tábua de cimento. Seus quatros lados estão sem revestimento mostrando as pedras aramadas que o compõe. Pequenas ervas selvagens e samambaia crescem entre as pedras. O túmulo resiste à total ruída por ser feito de pedra.
As primeiras informações colhidas por mim de alguns moradores da comunidade Ferreira Pena: 1 – O túmulo é da “primeira moça” que morreu em Ferreira Pena. Logo, dando a entender que a primeira senhorita falecida na antiga Colônia Ferreira Pena teve um túmulo grandioso. 2 – A senhorita foi sepultada no lugar da primeira missa celebrada naquele lugar do cemitério. 3 – No lugar onde a senhorita foi sepultada foi erguido um altar, e uma capela, a capela do cemitério, dando a entender que o altar foi erguido sobre seu túmulo. Até então ninguém sabia como era o nome da “moça”, em que ano ocorreu o fato e a família aquém pertencia. Era uma pessoa totalmente anônima. 4 – Havia uma “igreja” dedicada a São Pedro naquele lugar, coberta com telha de barro, contendo um sino de bronze, que tocava de maneira fúnebre a avisando a morte de uma pessoa e tocando para o sepultamento. A “igreja”, que na verdade era a capela do cemitério”, era toda em madeira, com assolado baixo em madeira. A capela servia para velório, exéquias, e abrigo para pessoas protegendo-se da chuva e do sol quando estavam no cemitério. Na parede da capela havia um quadro artístico trazendo a representação de um olho humano, de uma orelha humana e de uma mão humana, e nele estava escrito: Deus ver ... Deus escuta ... Deus escreve em linha certa ... a madeira da capela apodreceu e esta entrou em ruída, ainda de pé até o ano 1950. As tábuas do assoalho estavam soltas. Roubaram o sino de bronze e as telhas de barro. Veio a total ruína e a capela desapareceu para sempre, sem deixar vestígios, permanecendo somente o altar de pedra aberto ao tempo, levando pessoas pensarem ser um túmulo. 5 – A última informação: em Ferreira Pena não havia lugar para sepultar os defuntos, e quando “a primeira moça morreu”, o seu pai doou um pedaço de sua propriedade territorial, para sepultar o corpo de sua filha e para ser o cemitério, e assim, surgiu aquele cemitério.
Nos dias 18 e 19 de novembro de 2023, sábado e domingo, eu fui passar dois dias na Comunidade Ferreira Pena, hospedando na residência da professora Ednalva Ferreira para fazer um levantamento e anotações dos antigos fatos ocorridos naquele lugar, com alguns remanescentes dos antigos colonos fundadores da Colônia Ferreira Pena, inclusive com os descendentes da senhora espanhola Marciana Valderrabanos Garcia, natural da província Zamora, bisavó da Ednalva. Todas as vezes que eu visitei Ferreira pena e o cemitério, não fiz registro fotográfico daquele suposto “túmulo da primeira moça que morreu lá”. Desta vez, a ida à Ferreira Pena também tinha a intenção de ir ao cemitério para fazer registro fotográfico do suposto "túmulo", comunicando a intenção à Ednalva.
A saber: na rua que atravessa a frente da Igreja Santa Luzia, na Comunidade Ferreira Pena, existe a casa da Ednalva cercada num terreno, seguido da casa de sua irmã Edileuza Ferreira, seguido da casa do Sr. Antônio Fernandes de Alcântara, neto de Marciana Valderrabanos Garcia, irmão de Hilda Alcântara de Oliveira e Lindalva Alcântara e há a casa da família sob a custódia de Hilda e Lindalva, moradoras em Castanhal, mas passam o fim de semana na casa. Naquele terreno morou Marciana Valderrabanos Garcia.
A primeira reunião ocorreu com as irmãs Edileuza Ferreira e Ednalva Ferreira, bisnetas de Marciana Valderrabanos Garcia, umas das personagens colonas fundadoras da antiga Colônia Ferreira Pena, e eu. Participou da reunião o Sr. Raimundo Nonato da Costa, cuja sua família veio do Nordeste brasileiro e também é uma família da dita fundação da colônia. Seu bisavô veio do Rio Grande do Norte. Ele deu valorosa informação sobre a emancipação da terra, loteamento das terras destinadas aos colonos, e assentamentos dos colonos nos lotes, sob a instalação do governo José Paes de Carvalho. Ele confirmou a veracidade dos fatos. A maioria dos nordestinos instalados em Ferreira Pena vieram dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. Edileuza Ferreira mostrou as documentações já existentes sobre os núcleos Americano e Ferreira Pena, fez suas perguntas, eu também fiz as perguntas. Fizemos um “acareamento” dos antigos fatos históricos do lugar, das viagens dos colonos e da instalação dos colonos nos lotes de terra, a fim de chegar a um consenso comum. Eu fiz algumas anotações manuscritas em papel. A reunião ocorreu na residência da Edileuza Ferreira, com a presença de seu esposo, que fez registro fotográfico. Também falamos sobre o Cemitério São Pedro de Ferreira Pena, a saber qual a data exata de sua fundação, sobre a “primeira moça” sepultada naquele “túmulo” gigante, sobre a capela e o roubo do sino, sem chegar a um consenso por falta de informação. Edileuda indicou uma antiga sepultura muito aos fundos do cemitério, onde havia uma data antiga, eu podia averiguar a data.
A tarde, a senhorita Allana, filha da Ednalva Ferreira, me levou de moto ao Cemitério São Pedro, de Ferreira Pena, para fazer registro fotográfico do suposto “túmulo da moça” e do túmulo antigo aos fundos do cemitério. De vários ângulos que fiz o registro fotográfico com o dispositivo móvel, e fui apressado aos fundos do cemitério fotografar somente a lápide do túmulo antigo, e assim está escrito na lápide de mármore quebrado: “Aqui jaz os restos mortais de Ana Neves da Ponte Dias, nascida a 12 de março de 1905, e falecida a 18 de abril de 1916. Recordação de seus pais”.
Altar de pedra da extinta Capela São Pedro no Cemitério São Pedro em Ferreira Pena. E o mausoléu com lápide de mármore do túmulo de Ana Neves da Ponte Dias. 18.11.202 |
Também a tarde, quando as senhoras e irmãs Hilda Alcântara de Oliveira e Lindalva Alcântara (3ª idade), netas Marciana Valderrabanos Garcia, havendo entre elas e eu conversas avulsas sobre as mesmas coisas, até mesmo na hora do jantar nós conversávamos sobre as coisas do passado de nossas famílias. Na medida em que elas lembravam dos fatos, falavam a mim. O Sr. Evandro Oliveira, esposo de Lindalva Alcântara se reuniu comigo na mesa da cozinha da casa da família, onde ele deu um grande impulso em todas as informações gerais que eu queria saber e confirmar. De todas as pessoas que eu conversei em Ferreira pena, ele foi quem mais deu informações. A senhora Hilda estava na cozinha trabalhando em alguns fazeres, confirmava tudo o que ele dizia. O que foi confirmado:
- O altar que restou da capela do cemitério nunca foi túmulo de ninguém. Foi construída uma capela de madeira, a madeira apodreceu e a capela entrou em ruína até desparecer por completo, permanecendo no lugar somente o altar de pedra.
- A suposta “primeira moça” que morreu em Ferreira Pena nunca foi uma senhorita, mas uma menina de 10 anos de idade que caiu do cavalo e morreu. O nome da menina é Ana Neves, e seu túmulo é o último aos fundos no cemitério. É o dito túmulo em que fiz o registro fotográfico, e nele está escrito: “Aqui jaz os restos mortais de Ana Neves da Ponte Dias, nascida a 12 de março de 1905, e falecida a 18 de abril de 1916. Recordação de seus pais”. O pai amava muito a menina, e houve uma grande comoção nos colonos por causa de sua morte.
- Evandro Oliveira nunca ouvir falar que o pai da menina falecida Ana Neves deu o terreno para o corpo de sua filha ser sepultado e ser o cemitério da colônia.
Eu levantei questionamentos com ele, e depois com a Ednalva, confrontando as informações. Ana Neves da Ponte Dias nasceu no dia 12/03/1905, e José Rascón Temprano morreu em 1905 naquela colônia, ou seja, no mesmo ano, quando Sérgio Rascón Martínez tinha dezoito anos de idade. Tomasa Martínez Ferrero já tinha ido com a família para São Paulo. Sérgio se estabeleceu em Mocajuba em 1015. Ana Neves da Ponte Dias morreu em 18 de abril de 1916. Sofia, filha de Sérgio Rascón Martínez, nasceu em 1918 em Mocajuba. Se a Colônia Ferreira Pena teve seu núcleo criado em 9 de março de 1898, e colonizada em 1899. De 1998 a 1916 são 17 anos sem morrer ninguém em Ferreira Pena? Se José Rascón Temprano morreu em 1906 e Ana Neves morreu em 1916, logo não foi ela a morrer primeiro em Ferreira Pena. Eu e Ednalva chegamos a uma possível conclusão não confiável, até que apareça uma confirmação verdadeira: 1: a menina falecida podia ser a primeira filha do homem a morrer, a primogênita, e não a primeira pessoa a morrer em Ferreira Pena. 2- O pai de Ana Neves possivelmente faz a doação do terreno para ser o cemitério, mas somente depois disso, sua filha veio a falecer, depois de outros mortos. Logo, a filha foi sepultada no terreno doado pelo pai para ser o cemitério do lugar, mas isto não significa que ela foi a primeira pessoa a ser sepultada ali, 17 anos depois da colonização.
Evandro Oliveira deduziu que, a família da menina Ana Neves devia de condição financeira melhorada por causa da construção do mausoléu e da lapide de mármore sobre o túmulo, coisa que rico fazia naquela época e naquele lugar, e o mármore vinha da Europa ou de ouros lugar distante, entretanto, era demais caro colocar mármore em túmulo. Pobre não tinha condição financeiro para isso.
Outro questionamento: porque um pai que doa uma parte do seu terreno para ser transformado num cemitério, uma família de mais condição financeira capaz de mandar buscar mármore para revestir um o mausoléu, escolhe o último lugar aos fundos do cemitério para sepultar uma filha amada pelo pai? Geralmente a vaidade humana escolhe o primeiro lugar, a parte da frente, o destaque, e não o último lugar.
Contudo, os fatos são verdadeiros: a menina morreu e o seu túmulo registra a veracidade do fato, o cemitério existe e José Rascón Temprano morreu na Colônia Ferreira Pena. As demais controvérsias são desinformações desencontradas.
No dia seguinte, eu conversei com o Sr. Antônio Fernandes de Alcântara, neto de Marciana Valderrabanos Garcia e irmão das senhoras Hilda Alcântara de Oliveira e Lindalva Alcântara (3ª idade), que me contou como era a vida em Ferreira Pena nos tempos antigos.
Ednalva Ferreira, bisneta de Marciana Valderrabanos Garcia - uma das imigrantes espanholas na fundação da Colônia Ferreira Pena, que conheceu a Família Rascón Martínez; Hilda Alcântara de Oliveira, neta da Marciana; Nautilho; e, Lindalva Alcântara, neta da Marciana, irmã da Hilda. Foto na casa da família da Marciana em Ferreira Pena, 19/11/2023. |
Evandro Oliveira, esposo de Lindalva Alcântara, Hilda, Ednalva, Nautilho e Lindalva, 19/11/2023. |
Antônio Fernandes de Alcântara, filho da Marciana Valderrabanos Garcia, Nautilho e o Sr. Mário Fernandes de Alcântara, em Ferreira Pena 19.11.2023. |