PARTE 25
A partir de 1939
Sérgio no Sítio Olaria, no Tauaré
Francisco Seguin Dias comprou o Sítio Olaria, na Ilha do Rufino, Rio Tauaré, município de Mocajuba, da senhora Anna Pacheca Pereira, no dia 20/11/1914, e no dia 24/07/1931, Seguin vende o dito para Sérgio Rascon Martinez, conforme escritura de venda e compra. Entretanto, dez anos de Seguin vender o dito terreno para o Sérgio, na confissão de dívida de 1921, Sérgio já tinha um terreno “um terreno situado à margem esquerda do Rio Tauaré deste distrito”, conforme a escritura de confissão de dívida. Ocorreu que o terreno para onde Sérgio foi morar no Rio Tauaré foi o comprado de Francisco Seguin Dias, o Sítio Olaria, na Ilha do Rufino.
O incêndio no comércio “Seguin & Rascon” possivelmente ocorreu em 1921, e no mesmo ano, na confissão de dívida que Sérgio foi obrigado a fazer como devedor de Francisco Seguin Dias, um terreno aparece hipotecado na escritura da confissão de dívida, neste teor: “um terreno situado à margem esquerda do Rio Tauaré deste distrito”. Isto significa que Sérgio já possuía no Rio Tauaré.
Foi dito que, um homem ofereceu um trabalho a Elpídio, segundo esposo de Custódia, em na localidade de Jacundá, cuja proposta foi um engano, e a família teve que se mudar para Oeiras do Pará. Elpídio tinha levado a família para Oeiras do Pará, quando Nereu ainda morava com eles. Nereu voltou para Mocajuba, a morar com seu pai Sérgio, aos 16 anos de idade (em 1939?).
A volta de Nereu para Mocajuba.
Nereu Rascon de Freitas, filho de Sérgio e Custódia, era ativo, e logo passou a trabalhar em barco navegando com o Sr. Santinho Reis, em linha de viagem entre a localidade Jacundá e Oeiras do Pará. Ele devia ter cerca de quinze anos. Mas logo Nereu deixa de trabalhar. Nereu voltou a trabalhar, desta vez com o Sr. Félix Xavier, proprietário de um barco, que fazia viagem entre Oeiras do Pará e Belém. De Oeiras do Pará para Belém, Nereu fez apenas três viagens. Nereu viajou a primeira vez para Belém. Viajou a segunda vez e encontrou Sofia, sua irmã, agora jovem. De Belém, Sofia escreveu uma carta para sua irmã Tereza mandando recomendações para sua mãe Custódia, e mandou roupas para Tereza. Na terceira viagem que Nereu fez a Belém, o barco em que ele trabalhava, abordou ao lado do barco “Mario Bentes”, de propriedade de Francisco Seguin Dias, cujo fazia linha entre Mocajuba e Belém. O piloto do barco “Mario Bentes” era o Sr. José Pereira Castro, filho de Bebiano Pereira de Vilhena, irmão da Antonina Pereira Júnior, o pai da Liberalina Castro Almeida e do José Gonçalves de Castro (Zé Castro).
José Pereira Castro focou seu olhar num rapaz branco e de olhos azuis, aparentando 16 anos de idade, que estava no barco ao lado. Parecia que ele conhecia aquele rapaz de algum lugar, e passou a observar seus traços. Não tirando o olhar do rapaz, ele o reconheceu como o Nereu Rascon de Freitas, agora com mais idade. “Aquele rapaz é o Nereu, filho do Sérgio Rascón”. José Pereira Castro passou para o barco onde estava o Nereu e abordou com alegria o próprio Nereu: “Olá rapaz, tu és o Nereu, filho do Sérgio Rascón, de Mocajuba?” Nereu respondeu: “Sou sim”. José Pereira Castro continuou: “Nereu, vai visitar teu pai que está só e doente em Mocajuba, não tendo ninguém para cuidar de seus negócios. Vai lá visitar teu pai. Tu podias ir para Mocajuba cuidar dos negócios do teu pai... Vem comigo, eu te levarei até ao teu pai. Eu tomo conta desse barco aí ao lado, e faço viagem entre Mocajuba e Belém. Vai fazer um passeio com teu pai...”
Nereu se interessou na proposta, e comunicou às pessoas do barco em que trabalhava que estava de partida para Mocajuba, a visitar seu pai, dizendo que faria um passeio em Mocajuba. Nereu mudou de barco, abordando do barco “Mario Bentes” e partiu para Mocajuba. Segundo Nereu, naquele tempo, a “Casa Itamaraty” ainda pertencia ao seu pai Sérgio, e ele presenciou a venda da mesma casa.
José Pereira Castro levou Nereu até a presença do seu pai Sérgio, dizendo que o viu no porto de Belém, e o convidou para fazer um passeio em Mocajuba. Foi com grande alegria que Sérgio recebeu o filho, e foi conversar com ele. Sérgio pediu para o filho Nereu relatar toda a sua vida junto à mãe, como estava sendo tratado e como era a situação financeira deles. Nereu foi verdadeiro no que falou ao pai, contando a extrema pobreza em que sua mãe Custódia vivia com eu padrasto Elpídio. Chegou a contar que, uma vez, almoçaram a fruta Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) com farinha de mandioca e açúcar, porque não havia mais nada para comer.
Sério muito pensou no que Nereu falou, e disse que “já que eles vivem assim é melhor que tu fiques morando comigo”, e pediu ao filho para ficar em Mocajuba, a trabalhar no seu lugar como regatão, a fazer as viagens entre Mocajuba e Belém, assumindo os seus negócios comerciais. Sérgio comprou roupas para o filho. Em Belém mandou encomendar gravatas, ternos, sapatos, roupas sociais para os filhos e comprou panos para fazer mais roupas para ele. Sérgio apresentou o filho aos comerciantes e aos maçons dominadores do dinheiro, e o transformou num regatão, e Nereu tornou-se marítimo viajando os rios amazônicos, passando por cidades, vilas, povoados e sítios vendendo mercadorias e reabastecendo comércios ribeirinhos com mercadorias vindas de Belém.
Quando seu pai Sérgio Rascón Martinez vendeu a “Casa Itamaraty” na cidade Mocajuba, indo morar na “Casinha” no Sítio Olaria, Ilha do Rufino, Rio Tauaré, município de Mocajuba, Nereu morava na “Casinha” numa área reservada, isolada e sobressaída da casa, evitando contato direto com o pai, por causa da lepra em que Sérgio foi acometido. A “Casinha” tornou-se o foco de regatão no Tauaré. Dali Nereu partia em viagem marítima como regatão.
Custódia chorava e sofria a perda do filho Nereu, que partiu sem se despedir, e não mais voltou, pensando que Nereu fugiu de casa por influência de Sofia. Custódia alimentou um descontentamento contra sua filha Sofia acusando-a de ter influenciado seu irmão Nereu de fugir para a casa de seu pai Sérgio. Custódia morreu acreditando nisso. A motivação da acusação contra Sofia, foi com base nas idas de Sofia ao porto de Belém. Era de Costume Sofia ir ao porto de Belém, mandar cartas e encomendas para seu pai Sérgio em Mocajuba, e este também lhe enviar notícias e encomendas. Em 2002, quando Isaura visitou seu irmão Nereu no Sítio Olaria, o fato foi esclarecido quando Nereu relatou sua vinda para Mocajuba. Há também uma informação: quando o segundo esposo de Sofia a abandonou com as crianças pequenas, Sofia teve um caso de namoro com o dono do barco em que Nereu trabalhava, eis porque ela encontrou seu irmão no barco.
Segundo Nereu Rascon de Freitas, o terreno da Casa Itamaraty foi vendido por Sérgio em 1939, quando Sérgio foi morar definitivamente no Sítio Olaria até o dia de sua morte. Como foi dito, Nereu afirmou que não conheceu o já extinto comércio de seu pai e nem seu pai como comerciante na “Casa Itamaraty”. Nereu afirmou que a “Casa Itamaraty” foi vendida por Sérgio em 1939, nos dias em que voltou de Oeiras do Pará, para morar com seu pai em Mocajuba. Se ele nasceu em 1923, logo em 1939 tinha 16 anos de idade. Teodomiro (Dodó) também conformava que Nereu voltou a morar com seu pai em Mocajuba aos 16 anos de idade. NEREU AFIRMOU TER VISTO A VENDA DA “CASA ITAMARATY” E FOI MORAR COM SEU PAI SÉRGIO NO SÍTIO OLARIA, NO TAUARÉ.
No Tauaré, Sérgio viveu do comércio regatão, de borracha de seringueira, sementes de cacau e outros produtos da terra. Sérgio passou a navegar cada vez menos para Belém, por receio de ser levado ao Leprosário do Prata. Então era Nereu que navegava. As poucas vezes que Sérgio foi a Belém, era escondido a fim de não ser descoberto, e ser removido para o leprosário. Nereu passou a trabalhar como marítimo, na qualidade de regatão, no lugar do pai, mas pouco tempo, como se verá mais adiante. Mais tarde, quando a doença avançou, deixou a vida de navegar, permanecendo a fornecer as mercadorias no porto de seu sítio na Ilha do Rufino.
No terreno do Sítio Olaria, havia uma pequena casa de taipa, conhecida como “Casinha”, onde Sérgio morou até o fim de sua vida. A “Casinha” tinha oito metros de cumprimento. Havia uma sala como o cômodo mais espaçoso da casa. E também havia uma área separada da nave da casa, que era outro cômodo ligado à casa, onde o casal Nereu e Maria Marta moraram por seis meses, como se verá adiante. A “Casinha”. A “Casinha” era de taipa, ou seja, de barro com estrutura interior na parede de madeira, tão preparada que parecia ser casa de alvenaria, com assoalho elevado. Havia uma comprida ponte que adentrava o rio, onde Sérgio gostava de sentar e conversar com as pessoas. A “Casinha” tornou-se um ponto comercial de regatão e de frete de barco. O sistema de regatão era feito conforme as anotações manuscritas deixadas por Sérgio: as mercadorias dos fregueses comerciantes e não comerciantes eram anotadas em papel levado a Belém; as mercadorias eram compradas em Belém e levadas para a “Casinha” e despachadas aos fregueses que ali iam buscar suas “encomendas”. Os fregueses pagavam Sérgio pelos serviços prestados. Sérgio também fazia frete de barco para comerciantes que iam a Belém comprar mercadorias. Sérgio também trazia outras mercadorias extras e novidades de Belém que eram mostradas e oferecidas aos fregueses. Dessa forma, a “Casinha” tornou-se um ponto e porto comercial. Não houve na “Casinha” uma loja com balcão, prateleiras, mercadorias e caixa de quitação.
O fim da vida de regatão. Quando o regatão se acabou, por causa do barco que apodreceu, Nereu ficou sem fazer nada, e Sérgio passou a viver de colheita, compra e venda de sementes de cacau e de borracha de seringueiras, até o fim de sua vida.
Quando o barco de Sérgio apodreceu não mais podendo navegar, o comércio regatão acabou no Sítio Olaria, e Nereu procurou outros barcos para trabalhar e passou a trabalhar como empregados em barcos alheios, lavando a vida de regatão, agora como empregado, vendendo mercadorias. Segundo o próprio Nereu, ele viajou para as cidades de Curralinho, São Sebastião da Boa Vista, Bagre, Breves, Melgaço, Portel, pelas ilhas, rios e cidades do Marajó e Amapá, pelas serras do Amapá, Santana, Fazendinha, Afuá, etc. Como pai solteiro, gerou um filho em Curralinho e uma filha em Oeiras do Pará, e gerou mais uma menina falecida criança. Nereu morou dois meses em Macapá quando trabalhava para o Sr. José Dias. Trabalhou como piloto do barco de um senhor chamado Rosalvo, e como piloto viajava para Santarém, passou por Xingu e pelo porto de Vitória que dá acesso à cidade de Altamira. Segundo ele, em Monte Alegre conheceu a família do ditador do Pará, o governador Joaquim de Magalhães Cardoso Barata.
A viagem de Nereu a Oeiras do Pará. Por alguns anos, Nereu tornou-se marítimo, a vender mercadoria, como regatão, nos rios amazônicos, pela Ilha do Marajó e pelo Rio Tocantins, chegando a São Sebastião da Boa Vista, Curralinho, Bagre, Melgaço, Portel, Breves e outras cidades, gerando um filho na cidade de Curralinho, como pai solteiro. Na cidade de Oeiras do Pará gerou uma filha, como pai solteiro. A cerca de 1955, numa das viagens de regatão, foi visitar sua mãe em Oeiras do Pará que estava doente, mas ela já estava morta. Os irmãos de Nereu, Isaura, Maria, Tereza e Teodomiro (Dodó) o levaram ao túmulo de Custódia. Maria, filha de Custódia com Elpídio, já estava cega devido a uma inflamação nos olhos. Em Oeiras do Pará era dito que Custódia morreu de ameba, porque naquele tempo não havia remédio eficaz contra isso no intestino humano. É o que eles acreditavam, pode ser também algum tipo de infecção.
De Oeiras do Pará, Nereu partiu para Belém, e no porto de Belém, Sofia, acompanhada pela filha Nilze de Fátima, viu de longe Nereu no barco vestido de preto. Sofia foi a seu encontro e perguntou pelo seu pai Sérgio. Era comum Sofia ir ao porto de Belém se encontrar com seu irmão Nereu em busca de notícias de Mocajuba. Nereu falou à Sofia sobre a mãe deles, a Custódia. Sofia comprou pano preto, fez vestido de luto e colocou luto durante um ano. Foi pela terceira vez que Nilze de Fátima viu seu tio Nereu.
Nereu volta para Mocajuba outra vez.
A filha do Sr. Rosalvo se casou com um norte-americano e levou seu pai para os EUA. Nereu então ficou sem trabalho e voltou para a casa de seu pai Sérgio no Tauaré, Mocajuba. Nereu voltou a morar com seu pai na “Casinha”, no Tauaré, na área separada da nave da casa, evitando o contágio da lepra. E segundo ele, não tendo nada a fazer como profissão, na casa de Sérgio, a “Casinha”, foi trabalhar para o Sr. José Fernandes Oliveira, no seu comércio, tornando-se o administrador do comércio, até o dia em que José Fernandes se mudou com a família para a cidade Mocajuba. José Fernandes Oliveira mudou-se do lugar Tauarezinho para a cidade de Mocajuba em 1963, onde faleceu no dia 31 de julho de 1963. O comércio de José Fernandes Oliveira terminou no Tauarezinho. Suas propriedades ficaram sob a custódia do seu filho Miguelzinho. Nereu passou a trabalhar nas ditas terras, na condição de meeiro, tudo o que Nereu tirava de produção das ditas terras, era metade dele e metade da família de José Fernandes Oliveira, entregando a parte deles para Miguelzinho ou Rosa Faial em Mocajuba.
Segundo Nereu, Sérgio tinha conta de créditos em dois armazéns onde funcionava bancos: Bonustradora, e, Ferreira Gomes, e era Nereu que transitava essas duas contas bancárias. No banco Caixa Econômica Federal, Sérgio tinha duas contas bancárias, a de Nº 53522 e a de Nº 236, conforme o documento de 14 de agosto de 1958.
A Fazenda Maria Marta
Recapitulando: Nereu, quando voltou de Oeiras do Pará para Mocajuba, tornou-se regatão. O barco do seu Pai Sérgio Rascón Martinez apodreceu e Nereu ficou sem o trabalho de regatão, e foi trabalhar como região empregado em barcos alheios. Seu último trabalho como marítimo nos rios amazônicos, foi como piloto no barco do Sr. Rosalvo. Quando Rosalvo foi morar para os EUA, Nereu ficou sem trabalho e voltou para Mocajuba, indo trabalhar na administração do comércio de José Fernandes no Tauarezinho. Quando Nereu casou com Maria Marta, no dia 23/02/1957, trabalhava para José Fernandes. Em 1959 Nereu foi nomeado como funcionário público para exercer interinamente o cargo de Fiscal Municipal, junto ao Posto do Rio Tauaré-Grande, município de Mocajuba.
Sérgio Rascón Martinez, pai do Nereu, morreu no dia 04 de outubro de 1960. Nereu passou a se servir de toda a produção de cacau, borracha e outras utilidades dos terrenos deixados pelo seu pai. José Fernandes Oliveira mudou-se do lugar Tauarezinho para a cidade de Mocajuba em 1963, onde faleceu no dia 31 de julho de 1963. José Fernandes Oliveira tinha quatro cacauais no Tauaré. Os terrenos de José Fernandes Oliveira ficaram sob a custódia de Miguelzinho, mas era Nereu quem colhia e secava as sementes de cacau, até os dias em os terrenos foram vendidos. Nereu colhia as sementes de cacau do Sítio Olaria e dos terrenos reunidos da Castanheiro na Ilha do Rufino. Havia muito trabalho. A produção de sementes de cacau nos terrenos de José Fernandes Oliveira era de meia entre Nereu e a Miguelzinho, metade para um e metade para o outro. No Sítio Olaria, Nereu criava porcos e aves, e pescava. Não só pescava, como também, tirava camarão do rio.
Neste ínterim de trabalho, de 1971 a 1981, Nereu trabalhou no enorme terreno do Sr. Jacinto Mendes, na terra firme, também como meeiro, metade da produção era do Nereu e a outra metade era de Jacinto Mendes. No terreno de Jacinto Mendes havia um castanhal de Castanha do Pará. Nereu recolhia as castanhas dividindo a produção no meio, metade para ele e metade para Jacinto Mendes. Foi quando Nereu passou a trabalhar na terra como lavrador, cultivando a terra, plantando mandioca, batata doce, cará, milho, arroz, melancia, gergelim, maxixe, variedades de verduras e outras frutas. A raiz cará era chamada de “Cará Inhame” na região e em outras regiões, muito apreciada pelo Nereu. Os filhos mais velhos de Nereu e Maria Marta trabalharam naquela terra, ajudando Nereu no trabalho do campo.
Jacinto Mendes já não podia trabalhar e andar pelo vasto terreno, estando idoso e doente. Sua esposa Úrsula também já estava debilitada. Jacinto Mendes com toda a família se mudou para a cidade Mocajuba, indo morar numa casa na Praça da Caixa D’Água. A casa no interior entrou em ruína e desapareceu. O terreno foi vendido para o Dr. Alberto Seguin Dias, filho do Francisco Seguin Dias, e os filhos de Alberto Seguin Dias, depois de sua morte, venderam para o Sr. Nei Barros.
No lugar Acapu há um gigantesco campo natural, com vegetais rasteiros, onde o solo é areia branca e onde há flor do campo. É uma florzinha muito minúscula, branca. Cada flor numa haste fina vindo do solo. Do Rio Tauaré havia um caminho longo que levava ao dito campo. O campo está situado entre o Sítio Belo Horizonte e a rodovia entre Mocajuba e Baião, mas o campo não dá acesso à rodovia.
Aú é um Igarapé na terra firme. De quem vai andando do Rio Tauaré para o campo, antes de chegar ao campo, há o Igarapé Aú, na terra firme. O terreno do Sr. Jacinto Mendes ficava no Igarapé Aú para a beira do Rio Tauaré, cerca de 4 km de distância. Próximo ao Igarapé Aú havia a “Casa de Forno”, onde Nereu fazia a farinha de mandioca.
Em 1981, Nereu tirou e demarcou para si uma área de terra devolutas do estado, com 60 he, ou seja 600 metros de frente por mil (1000) metros ditos de fundos segundo a uma escritura, e, 620 metros de frente por 1200 ditos de fundos segundo o Nilton - filho do Nereu; mas a terra só foi regularizada em 1982. Nereu deixou as terras de Jacinto Mendes e passou a trabalhar de maneira autônoma em sua própria terra, plantado as raízes, arroz, milho, verduras e um pimental de pimenta do reino (pimenta-preta). A plantação da dita pimenta é chamada de pimental. Ainda assim, Nereu colhia sementes de cacau nos terrenos do Sítio Olaria e Castanheiro, e nos terrenos da família de José Fernandes Oliveira, e também na produção de borracha de seringueiras que ainda gerava lucro. Criava porcos e aves no Sítio Olaria.
O terreno da Fazenda Maria Marta está situado depois do referido campo natural, entre o campo e a rodovia que liga Mocajuba a Baião, cerca de 1km do Igarapé Aú.
Em 1981, o Dr. Alberto Seguin Dias, filho de Francisco Seguin Dias, demarcou para si grandes terras na região do Tauaré em Mocajuba, marcando o território com pequena abertura no mato, tipo caminho de limite. Nereu percebeu a invasão da marcação em parte do seu terreno, no lugar Acapu, e procurou saber o que estava acontecendo. Nereu fez denúncia formal contra Dr. Alberto Seguin Dias. Nereu convocou os posseiros e trabalhadores das terras. Pediu ao seu filho Nilton para datilografar as fotos para um baixo assinado, onde pessoas assinaram o documento que foi como denúncia para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Depois da denúncia, Dr. Alberto viajou para o Tauaré, e permaneceu no Sítio Petrópolis.
Num fim de tarde, o caseiro do dito sítio, Sr. Júlio, o levou de barco motorizado sem cobertura, ao Sítio Olaria, para conversar pessoalmente com Nereu. Eu estava de férias no Sítio Olaria, devia ser férias no final do ano de 1981. Nilson, filho do Nereu, com sua esposa Valdiza estavam no andar decima da casa quando Dr. Alberto chegou, e desceram a fim de estarem presente na conversa, pois sabiam que a reunião seria pesada. A conversa foi tensa porque Nereu denunciava o ocorrido e os proprietários de terras que possuíam muitas vastas terras sem nada produzir e sem dar aos pobres que tanto precisam de chão para plantar. As ditas terras estavam no mato, onde ninguém morava e plantava, iguais a terras devolutas em dono, enquanto os pobres, sem terra, estavam passando fome, sem ter quem os ajude. Nereu foi firme e levantou a voz contra o Dr. Alberto, e este disse ao Sr. Júlio para devolver ao Nereu a parte da terra demarcada no seu terreno.
Depois disso, em 1982, Nilton, filho do Nereu, regularizou o terreno de Nereu no lugar Acapu. O terreno foi registrado como “Fazenda Maria Marta”. Todas as causas de documentos e impostos desse terreno sempre estiveram na responsabilidade do Nilton, desde quando Nereu estava vivo, pois o próprio Nereu pedia tudo a ele e confiou a ele essas causas.
“ATESTADO DE OCUPAÇÃO DE TERRAS ISOLADAS DO ESTADO
Nós, infra assinados, moradores da localidade de Tauaré, município de Mocajuba, Estado do Pará, testamos para os devidos fins e efeitos de direitos e a bem da verdade, que conhecemos a pessoa do senhor NEREU RASCON DE FREITAS e seus familiares, residentes em nossa jurisdição, que o mesmo vem ocupando uma área de 60 ha, ou seja 600 metros de frente por mil (1000) metros ditos de fundos, com plantio do lavoura branca e pimenta-do-reino, cujo terreno limita-se pelo lado direito com o terreno do senhor JOÃO COELHO PAES e herdeiros de Manoel Pinto, pelo lado esquerdo com a Estrada do Acapú, pelos fundos com o Campo Nacional (Natureza) e pela frente com a Rodovia PA 151, conhecimentos esses desde muitos anos e tempos de cultivação ou seja uns trinta e cinco anos de posse, e pela qual prometemos a responder por esta verdade em qualquer instância de justiça que necessários sejam.
E para melhor firmeza de propriedade mandamos fazer este instrumento para que produza todos os efeitos legais, que sendo lido e achado conforme vai devidamente assinado por nós declarantes de próprios punhos.
Tauaré-Mocajuba, 03 de julho de 1987.
Clovis Euzébio Igreja
Raimundo ... (?)...
Veríssimo Dias Almeida.
Supra dou fé e testemunho .... (rubrica) ... da verdade
Mocajuba 04 de agosto de 1987
Maria de Fátima Braga Trindade
Escrevente Juramentada
Cartório do Único Ofício”.
O prefeito Wilde Leite Colares, incentivou projeto de plantio em Mocajuba, mas só podiam participar do projeto, e receber o benefício do banco, quem tivesse terreno próprio para o plantio. Norberto queria aderir ao projeto, mas não tinha terreno próprio. Foi então que Nereu doou a ele uma parte do terreno da Fazenda Maria Marta para o projeto, com doação assinada.
No termo de doação, o nome aparece escrito errado “Noberto”.
“Termo de Doação
Nós, infra-assinados, brasileiros, paraenses, casados, agricultores, residente e domiciliado nesta cidade de Mocajuba, Estado do Pará, declaramos para todos os fins de direito e a bem da verdade que somos legítimos proprietários de uma área de terra, medindo 600 (seiscentos) metros de frente por 1000 (mil) metros de fundos, situada na colônia Miguel Dias de Almeida, no lugar denominado Acapú, nesta data DOAMOS ao cidadão Noberto Pereira de Freitas, brasileiro, paraense, maior residente e domiciliado nesta cidade de Mocajuba, uma parte desse terreno medindo 250 (duzentos e cinquenta) metros de frente por 1000 (mil) metros de fundos. Limitando-se pelo lado direito com Antônio Martins Wanzeler, pelo lado esquerdo com Nereu, digo, com os consignatários, pela frente com a PA-151 e pelos fundos com o Campo Nacional.
Esta DOAÇÃO fazemos de livre e espontânea vontade, de sã consciência, sem coação alguma e sem caráter irrevogável.
Por ser a presente a expressão da verdade, datamos e assinamos em duas vias de igual teor e para os mesmos fins.
Mocajuba, 30 de abril de 1999.
Nereu Rascon de Freitas
Noberto Pereira de Freitas
Testemunhas:
(rubrica)
Deivid Antônio C. (Corrêa) Estumano”.
Os diversos filhos de Nereu.
Na juventude, Nereu era um rapaz belo, alto, branco
europeu, olhos azuis e cabelo loiro escuro. Muito namorou e gerou filhos com
várias mulheres diferentes. Além do filho em Curralinho, da filha em Oeiras do
Pará, da filha falecida criança, gerou em Mocajuba uma filha chamada Nereuza,
filha materna da Sra. Raimunda Pereira Furtado, conhecida como “Zitinha”.
Namorou uma senhorita afro descendente Elízia Corrêa Monteiro, chamada de Lilí,
gerando com ela três filhos homens: Pedro Corrêa, João Corrêa e Osvaldo Corrêa.
O Osvaldo Correa, conhecido como Vadico, morreu de cirrose quando seu pai Nereu
ainda era vivo, sendo o segundo filho de Nereu a faleceu. Segundo Nereu, uma
menina sua filha morreu quando criança. Nereu, já casado com Maria Marta, gerou
um filho com a Sra. Benedita Furtado. Nereu não teve um caso extraconjugal com
esta senhora, foi apenas uma rápida união carnal momentânea, mas que gerou o
filho Antônio Francisco Lobato Rodrigues.
Antônio Francisco Lobato Rodrigues. Filho legítimo de
Nereu Rascon de Freitas e Benedita Furtado, nascido a 10/10/1964. Filho adotivo
de Edmundo Rodrigues (o “Severino”) e Celina do Carmo dos Prazeres Igreja.
Embora tendo muitas namoradas na juventude, nunca casou, e gerou uma filha, que
também foi adotada por seus pais adotivos, sendo sua verdadeira filha e irmã
adotiva ao mesmo tempo.
No casamento, Nereu gerou doze filhos com Maria Marta.